Thursday, January 12, 2006


O Caracol Perdeu as Cuecas!...

Isto já é conspiração...Os sobrinhos do Tio Sam, que vivem em casa dele, decidiram arranjar uma desculpa toda esfarrapada só para poderem comer as Queijadinhas de Sintra, e os Pastéis de Belém do Caracol!...Já não chegava terem explorado a pobre da lebre e da tartaruga naquela história ramelosa, cheia de espírito competitivo, agora, assaltam invertebrados em plena luz do dia, no meio de um aeroporto!...Tudo isto para comerem os pastéis sózinhos!...O que eles pensam é que nós não sabemos acerca da história, já antiga, de roubarem as casas aos caracóis e chamarem-lhes lesmas...mas agora não!...não senhor!...isto agora é diferente, e o caso muda de figura!...O que eles não sabiam é que este caracol não era um simples molusco gastrópode, mas sim um conhecido e famoso personagem, a quem os orgãos de comunicação social dão muita atenção, pois!...Agora, só por causa do gamanço dos pastéis, têm de lhe levar a malinha de volta, de limosine e tudo!...e aconselho os nossos ricos sobrinhos a apresentarem as cuecas muito bem lavadinhas, e passadas a ferro, que isto não é o salve-se quem puder!...E, francamente, em vez de perderem tanto tempo a desviar a mala, por portas e travessas, só por causa de uns pastelinhos, podiam ter antes pedido a receita, que nós até estamos aqui é para ajudar!...
Ó Caracol, se decidires fazer a receita antes de eles te trazerem a mala, arranja um aventalinho, para não queimares o pauzinho na porta do forno!...
Então aqui vai:
Para os Pastéis de Nata, deitem 3 decilitros de natas e 6 gemas de ovos num tacho, e juntem 150 gramas de açucar. Levem a lume brando até ferver, mexendo sempre devagarinho. Deita-se esta maravilhosa mistura em formas forradas com massa folhada, fina, e leva-se a forno forte até estarem prontos!
Para as Queijadas de Sintra, a massa é feita com 250 gramas de farinha, água e sal, a olho, que era assim que a comida era feita lá em casa. Façam a massa de um dia para o outro, para levedar, e ficar riginha (embrulhem a massa num pano seco, coberto com outro molhado!).
Para o recheio, desfaçam 400 gramas de queijo fresco, misturem 350 gramas de açucar, e juntem 4 gemas de ovos, 60 gramas de farinha, e uma colher de café de canela. Isto é tudo muito bem misturado, as formas são forradas com a massa estendida, fina, e o recheio é aí colocado, capisce?...
Cozem esta gaita em forno quente como o caraças, durante 10 minutos, que é o tempo de beber mais uma bica e um bagaço, e comer um pastél de bacalhau!...
Agora não quero que pensem que estas receitas me foram dadas assim! Que aquilo lá em casa era tão fino que até espetava!...Tudo de faca e alguidar, as receitas eram feitas entre chapada e pontapé nas trombas, e enquanto coçava furiosamente as redondezas do material recreativo, de beata na boca, dizia o chefe, 'É pá, ó ranhoso, mistura lá a merda do queijo c'a po'caria do açucar até essa merda ficar com'ó vomitado' (pausa para escarrar no chão e limpar ás costas da mão) 'Já tá?...Atão agora mistura lá as putas das gemas mais a farinha!...Prontes, agora metes lá a puta da canela, e misturas bem até isso ficar com'á nhanha, tudo pegajoso...' (Pausa para ir mijar e regressar, ainda a apertar a breguilha, com as mão cheias de mijo. Açender mais um cigarro, e continuar) '...'da-se!...ainda não forráste a merda das formas?...'Tás á espera que seja eu a fazer, não?...Não tarda nada levas mais uma biqueirada nos cornos, ó paneleiro da merda!...Vá lá, pá!...despacha-te lá!...'(Devo acrescentar que, ainda hoje o meu psicologista não percebe muito bem o que é que aconteceu!...) E o chefe continuava a ensinar, 'Já 'tá?...atrasado mental da merda!...põe lá a merda do recheio nas putas das formas e põe mas é essa merda toda no caralho do forno, e despacha-te!...'
Eu peço desculpa, mas decidi editar o texto na sua integridade, sem fazer qualquer corte de censura linguística, ao contrário dos filmes na televisão do Tio Sam, pois!...
Então bom apetite, e beijinhos!

4 Comments:

Anonymous Anonymous disse...

Nós adoramos este blog pois que utiliza uma versão vernácula da nossa maravilhosa língua portuguesa com uma leveza, uma "finesse", uma subtileza dignas dos maiores encómios. Claro há reparos ou não fôssemos críticos natos por mercê da conjunção astral que presidiu ao parto da Senhora nossa Mãe, ao colocar-nos no Mundo. Daí que seja fundamental referenciar que o C, antes das vogais E e I, não prescindem de cedilha, aquele pinduricalho que me lembra um dos burriés a que vos referis na vossa linhagem familiar. Fora disso, acrescento que gosto de todo o tipo de burriés, sejam eles marinhos ou nasais, de pastéis de Belém e de queijadas de Sintra, confeccionados ou não sob o jugo de um chefe-pasteleiro de expressão oral profana e intolerável, ainda que de pleno direito numa Monarquia Constitucional como a nossa.
Dito isto, apraz-me informar que darei toda a atenção à genealogia das Casas Nobres da Porcalhota e dos Burriés (tanto da que fica por cima como a que fica subjugada).
Visconde de Montanelas

PS - Foda-se ké preciso falar e escrever bem comó caralho pra produzir uma peça destas!

12:18 PM  
Anonymous Anonymous disse...

Onde se lê "...antes das vogais E e I, não prescindem..."
deve ler-se a mesma coisa exceptuando-se a palavra 'não'.
As nossas desculpas.
Visconde de Montanelas

8:17 PM  
Anonymous Anonymous disse...

Isso não me parece apenas um belo curso à distância, de receitas nobres e sim, um DIScurso completo da língua portuguesa, sendo muito bem empregada pela realeza...
Alegro-me em perceber a semelhança que há entre a parte de cima da terra e obviamente o lado aristocraticamente nobre, com a criadagem e mais especificamente a que se encontra abaixo do cinturão dela, onde a quantidade de palavras fortes e imponentes para "caralho", insistem em fazer parte do vocabulário real, tanto quando nos meios mais simples onde reside a criadagem!!! Começo a pensar afinal que, o que de fato une os povos na terra - independente do meio sócio cultural a que pertencem - é a quantidade de palavras dessas que saem da boca das pessoas e que transmitem exatamente o que vai no íntimo de cada uma delas, não importando a que mundo pertença, se do lado da nobreza, ou do lado da pobreza...
Afinal, que se fodam mesmo as fronteiras e os limites!!! Viva às porras das receitas, gastronômicas ou gramaticais!!!

1:43 PM  
Anonymous Anonymous disse...

Parabéns, a receita é do caralho mesmo. Que se fodam o "s" e o "ç", o que importa é a originalidade da obra que deliciosamente nos prende e nos diverte.
Continue criando sem se preocupar, pois já ciraram os revisores e os Viscondes pra dar palpites depois que a porra tá pronta.

4:40 PM  

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