Monday, January 16, 2006


O Palavreado das Receitas

Já estamos a meio de Janeiro, e ainda ando a comer os restos dos doces de Natal!...Ainda hoje, ao pequeno-almoço, comi um pires de broas castelares, e já não sei a quem é que hei-de dar mais uma caixinha delas porque já dei a toda a gente que está ao meu alcance. Não é que elas se estraguem, mas quero fazer outros bolos e bolachas, e não dá jeito nenhum fazer isso com uma caixa cheia de broas!...A culpa foi minha, com a mania de ter receio que as broas não chegassem se eu tivesse só feito a quantidade inicial indicada na cábula, resolvi fazer o triplo, vejam lá bem, que deu nada menos do que oitenta e tal broas, sem contar com as que se íam comendo à medida que saíam do forno...aquilo é que foi uma barrigada de broas, sim senhor!...
Já uma vez tinha vindo visitar-me o senhor meu irmão, o Conde de Burriés-de-Baixo, que por tal feito mereceu ser feita uma celebração digna de um banquete à altura da linhagem de Sua Senhoria, e para tal, remexeu-se a cozinha de um canto ao outro, poliram-se os potes de bronze e limpou-se o pó das colheres de pau, e fez-se um festim do qual conta assim a ementa:
Para a entrada, fritaram-se umas sardinhas, simplesmente salgadas e passadas por farinha, que se comeram com as mãos, no balcão da cozinha, e fritaram-se também umas alheiras de Mirandela, com a respectiva batata frita a acompanhar. Ainda como aperitivo, serviu-se uma grande variedade de Queijos, que vieram dos mais afastados e diversos cantos de todo o Império, e um sortido de Enchidos dignos de qualquer Feira da Especialidade!...
Para os condutos, serviu-se uma travessa de pastéis de bacalhau, ainda quentes e estaladiços, uma terrina de polvo estufado, apresentado com fartura de batatas-a-murro, assadas no forno, e ainda outra caçoila de barro a transbordar de chanfana de cabrito. Para a sobremesa, apresentou-se um tabuleiro com mais de cinquenta pastéis de Feijão, que foram comidos antes de arrefecerem.
Estávamos preocupados que a comida oferecida no banquete não fosse o suficiente para todos os convidados, que foram quatro, ao todo, incluíndo as nossas próprias pessoas!... Afinal chegou, mas também não houve restos!...
Mas, como dizia eu, com estes meus excessos quantitativos de exuberâncias culinánias, tenho de arranjar maneira de acabar de comer as broas, e pensei, vou-me sentar na minha poltrona, em frente da televisão, a apreciar distraídamente algum filme passageiro enquanto devoro mais umas broas...qual quê!?...Até me engasguei!...Por pouco que não ganhei os soluços que tinha a televisão enquanto esquartejava o filme que apresentava!...E esquartejar nem chega a dar justificação suficientemente justa ao que eles fizeram ao filme!...Eu explico...Agora é comum apresentar abertamente o resultado final dos sofisticados lavoros das crusadas da censura nos programas de comunicação social, respectivamente, na televisão. Então é assim, como não se pode dizer asneiras nenhumas nos filmes, as palavras são cortadas, deixando um breve, ou longo, espaço, dependendo do tamanho do palavrão, ou palavrões, entre as frases, conversas, e diálogos dos personagens. É interessantíssimo!... 'Anda cá, ó.......de.........', 'Este.......agora está a chamar-me só para me.........o juízo!', 'Ò Manel, vai buscar a...........das galochas, e põe-te nas.....'
Pois, os filmes agora têm muito mais valor moral, sem dúvida!... Principalmente quando estão todos a andar á pancada, e a chamar nomes uns aos outros, até parece que estamos a ver um filme mudo!...E eu a encher a boca de broas, todas seguidinhas, de enfiada, para não dizer nada, ainda com os olhos muito esbugalhados de surpresa, quase a cair do trono abaixo!...Então isto faz-se?...Há certos filmes, que eu conheço, que vão passar a ser mudos!...E vá lá, ainda não terem cortado a violênçia...senão deixava de haver televisão na terra do Tio Sam, já viram lá isto!...Ainda bem que os departamentos de censura são tão eficientes! Fico muito mais descansado agora que as criancinhas não têm de ouvir as poucas-vergonhas que se dizem na televisão enquanto as manas massacram um ceguinho com uma catana e violam o cão com um poste de eletricidade enrolado com arame farpado!...Uff, que alívio!...Podem aprender a matar e a torturar tudo o que quizerem, mas dizer merda é que não!....Ai, que eu agora disse uma asneira e eles vão cortar o meu Blog!...
Se isto não fosse um serviço público, garanto-lhes que enchia uma página de obscenidades, nem que tivesse de telefonar a alguém para aprender mais palavrões!...
Bom, vamos lá á receitinha das broas castelares, para vocês fazerem muitas para o ano, e me mandarem um pratinho delas, se eu já tiver acabado as minhas!...E se pedirem com muito jeitinho, um destes dias, também hão-de ver a receita dos pastéis de feijão!...
Cozem, descascam, e passam a puré 250 gramas de batata doce, misturam 250 gramas de amêndoa ralada, e 250 gramas de açucar. Levam esta mistura a lume baixo, e mexem bem até estar tudo bem ligado. Retiram do lume e misturam 125 gramas de farinha de milho, e 125 gramas de farinha de trigo, previamente misturadas. Adicionam depois 4 ovos inteiros, batidos, e as raspas de um limão e uma laranja, e envolvem bem a massa até estar muito bem misturada.
Agora aqui é que está o segredo!...esta mistura vai ficar muito mole, e não deixa formar broinhas á mão. Então, precisam de um recipiente com farinha, e com duas colheres de sopa, como se fazem os pastéis de bacalhau, formam assim as broas e deitam na farinha. Depois é como pegar em sardinha fina, com muito jeito, para não desfazer a broa, moldam de forma oval, sem as achatar, e colocam as broas num tabuleiro forrado, ou com folha de obreia, ou com papel de pasteleiro. Pincelam as broas com gema, ou ovo inteiro batido, que é o que eu faço, e levam a forno quente até corarem. Bom apetite, beijinhos de Burriés-de-Cima, e não vejam filmes com palavrões, escolham antes um filme de guerra!...Ou comam uma peça de fruta!...

14 Comments:

Blogger Nuno Zeppo disse...

O meu querido irmão esquceu-se de mencionar a paella, as costoletas de borrego, os mexilhões e o chouriço assado para além de ter sido impreciso no número de pastéis de feijão, que eram 78 mas tivemos a delicadeza de dar dois pastelitos a uns pobrezinhos que passavam pela cozinha e deixavam um rasto de saliva só com o cheirinho dos ditos.

beijos no coração

10:30 AM  
Anonymous Anonymous disse...

Ó meu querido conde, aprender mais palavrões acho difícil, mas pode sempre aprender com o senhor seu pai a fazer composições com os que já sabe...e olhe que devem sair umas receitas divinais, de fazer interromper as emissões deste (e de outros) blog(s)

11:39 AM  
Anonymous Anonymous disse...

AH!! O que eu gosto de um bom vernáculo! Os serões da Porcalhota nem seriam os mesmos! Quanto aos banquetes que meu estimado irmão de Cima faz ao seu estimado irmão de Baixo, isso é que é de estalo! Ainda este Natal estava eu na Terra dos Alces quando pude saborear a iguaria que é a pussy com açúcar e canela (pussy é gata.... ou pelo menos convençam-se disso, que isto é uma família séria e honrada... e não me enervem)!!, que o Senhor meu irmão moldou e fritou com aquelas mãozinhas que o fogo há-de consumir um dia mais tarde (que ele não é nada dessas coisas de ficar a alimentar vermes...embora eu suspeite que os pequenos bichos se deliciariam com carnes tão bem tratadas!), como se não houvesse amanhã! E calem-se e abotoem-se que à mesa não se canta, a não ser que saibam canções com o devido vernáculo para animar a deglutição destes finos repastos.

Long live os Condes de Burriés!

Acenos da Varanda Central,
Viscondessa da Porcalhota

5:27 PM  
Anonymous Anonymous disse...

Sinceramente, fico encantada com a maneira como os Senhores dessa família escrevem e isso, deve-se certamente a minha vida de pouca fartura em receitas e muita fartura em pobrezas... Afinal, sou do lado de baixo da linha imaginária!!! No entanto, há vezes que penso em testar as tais receitas aqui ofertadas, mais entre tantas estórias e contos; entre tantos palavrões muito bem ditos, fico aqui a pensar que tudo não passa mesmo de uma grande confratia familiar, para iludir a todos nós, simples súditos plebeus... Afinal: essas receitas existem mesmo???

2:40 PM  
Anonymous Anonymous disse...

Corrigindo:

...fico aqui a pensar que tudo não passa mesmo de uma grande CONFRARIA familiar, para iludir a todos nós, simples súditos plebeus...

2:42 PM  
Anonymous Anonymous disse...

Para a Anónima de Floripa, que de plebeia nada tem, outrossim uma linhagem nobre bem delineada a quem atribuímos o título de Baronesa de Rio Vermelho, forma como deverá identificar-se a partir deste momento.
Dito isto, fique sabendo que as receitas existem, são genuínas, como o divinal Bacalhau à Vó Ilda:
1 posta de bacalhau demolhado e
3 batatas por cada pessoa. Bom, depois consoante o número de famintos a quem urge servir, a Senhora Baronesa calcula a olho, quanto azeite, quantos alhos, quantas folhas de louro e pimenta deve colocar numa frigideira, cujo tamanho deverá ser directamente proporcional ao número e à voracidade dos convivas.
Fritam-se os alhos no azeite, alourando-os bem, e com as folhas de louro lá dentro. Quando aquilo estiver no ponto, misturam-se as postas de bacalhau, sem espinhas nem pele, completamente desfiadas e polvilham-se generosamente com colorau doce (paprika). A seguir, juntam-se as batatas cozidas, cortadas aos cubos pequenos e vai-se misturando tudo à medida que o azeite for sendo totalmente absorvido. Quando aquilo começa a ter uma cor uniforme e cor de colorau bem escura, adiciona-se uma generosa porção de vinagre de vinho tinto, que pode tb ser balsâmico. Não adicione sal pois o que o bacalhau contém é mais do que suficiente. Serve-se com salada de alface ou de quaisquer outros vegetais verdes.
Aprenda que eu não duro sempre!
Seu dedicado,
Visconde de Montanelas

4:05 PM  
Blogger Nuno Zeppo disse...

Em resposta á nossa fiel vassala, ou vassalo, se for esse o caso, devo agradeçer o apoio, e o facto de se passear por tão íngremes terras, como são as nossas. Pode confiar nas ditas receitas, que são verdadeiras e de provada fidelidade, todas elas confecionadas nestas nossas cozinhas reais.

6:08 PM  
Anonymous Anonymous disse...

Nobre Senhor Conde-de-Burriés-de Cima e de Burriés-de-Baixo!!!

Sou mesmo uma vassala fiel (agora nem tão vassala, depois do pomposo título a mim conferido e que me atrapalho todinha ao usá-lo!!!), e aqui estou sempre, a procurar por novos sabores, temperados pela alquimia das letras e do humor imperdível!!! Agradeço por esclarecer-me que tais iguarias produzidas nas vossas cozinhas reais, possam ser confeccionadas para além das terras geladas e certamente que farei aqui, algumas adaptações ao tempero tropical brasileiro!!!

Das águas do Rio Vermelho

4:52 AM  
Anonymous Anonymous disse...

Agora falando sério:

Isso aqui é uma zorra tão grande e tão agradável de se ler, que eu acho mesmo que vocês deviam pensar em editar dois livros em família e ao mesmo tempo: o da Viscondessa da Porcalhota - intelectualizado e quase politicamente correto, com humor irreverente, moderno e metódico, formatado em linhagem profissional e bem estudado em cores e composição - e esse, do Nobre e Distinto Conde de Burriés-de-Cima e de Baixo, com as maravilhosas receitas reais, permeadas de palavrões e tropeços na inserção das fotos, mais tão excelente quanto o da Nobre Viscondessa!!!
Acho mesmo que seria um sucesso - ao menos aqui em terras quentes - ler um livro desses, descomprometedor e com todos os detalhes, cores, erros de digitação e humores, dos blogs tão usados por todas as idades pelo mundo todo!!!
Parabéns à Nobre Família Real e desculpas sinceras por minha intromissão vassala!!!

Das águas do Rio Vermelho

5:14 AM  
Anonymous Anonymous disse...

Cara Baronesa, nem imagina o prazer que eles -os Condes e o Visconde - teriam em conhecê-la. Mas aconselho-a a permanecer distante, não vá cair-lhe em sorte tão nobre frigideira. Eles comem tudo...

11:47 AM  
Anonymous Anonymous disse...

Cara - e também Nobre - Cascavel!!!
Agradeço-lhe emocionada, pelo extremado cuidado e atenção em me colocar ciente dos hábitos canibais da nobreza das terras geladas do norte, e certamente que deves conhecê-los muitíssimo bem. No entanto e a bem da verdade, não carecia não... Sou do sul!!! Isso implica em dizer, que sou das partes baixas da terra... Do lado quente!!! Portanto a frigideira é meu território e aqui as coisas acontecem de outro modo. Aqui - e seguindo o dito popular - aprendemos muito bem, a amansar o bicho a unha e frigideiras quentes, estão longe de serem ruins, desde que saibamos colocá-las na temperatura certa e com os temperos adequados... Olhe que isso tudo embalado ao gosto brasileiro, acabaria em samba, caipirinha e muita diversão!!! Mais fique tranqüila, que a própria geografia, já se encarregou de me manter distante de tais glutões e fique certa, eu nem os conheço!!! Ainda assim, estou imensamente agradecida por sua atenção e zelo e não sou dada a competições. Desse modo, entrego-lhe a frigideira, de bandeja!!! Ela é sua!!! Faça bom uso!!! Por favor, mantenha-me informada e a propósito: há bons pombos correios aí??? Não os coma!!! Eles estão fora do cardápio, pois são essenciais para a nossa comunicação!!!

Das águas do Rio Vermelho

3:18 PM  
Anonymous Anonymous disse...

Ah, grande Baronesa do Rio Vermelho! è assim mesmo: tufa na cueca!
A peçonha da cascável deve ter sofrido um severo revés com essa sua sapientíssima resposta. Em linguagem de assistência social, o que a cascável fez, qualifica-se de "projecção". Ou seja: reflectir nos outros os seus próprios defeitos (vícios, neste caso)...

4:24 PM  
Blogger Nuno Zeppo disse...

Caríssima Baronesa de Rio Vermelho,
cobras, no nosso receituário, só fritas, e se bem que não lhe minta a cascavel, quanto ao nosso voraz apetite, nada tem a temer, pois a dita está tão longe de nós como Vossa Senhoria.
E, sinceramente, nas nossas Nobres Cozinhas, também sempre gostamos mais das frigideiras quentes!...E com elas houver caipirinha, ou mesmo caipiroca, então até nós dançamos o Samba, e em ritmo de Bumbumbum!...Se não fossem os coches tão demorados nestas longas viagens, iríamos nós até ás suas Reais Cozinhas aprender a sua moda dos tachos!...(suspiro)
Comidinha no Papo e muita Diversão, é o lema desta casa dos Condes de Burriés!...Batuca-se o tambor e abana-se a bunda, e sai mais uma cachaça!...

4:35 PM  
Anonymous Anonymous disse...

Caríssimos Conde de Burriés-de-Cima e de Burriés-de-Baixo

Realmente os coches são demorados demais e o trecho a ser percorrido, de tão longo, foge das linhas limítrofes dos mapas... Também já não existem bons remadores como antigamente e desse modo não poderei colocar minhas naus ao dispor da nobreza das terras geladas do norte. No entanto, tenho ainda - e pelo simples fato de viver no lado quente e pobre da terra - bons corredores (aprederam a correr, fugindo da polícia!!!) e desse modo, faço questão de lhes enviar através de um desses entregadores vips e diretamente da mais remota ilha das águas cálidas do sul do Brasil, uma garrafa de cachaça especial, de fabricação própria!!! Esse título que me foi conferido - Baronesa de Rio Vermelho - elevou consideravelmente o nosso produto no cambio negro e o contrabando tem engordado substancialmente os nossos cofres!!! Portanto, faço mesmo questão de lhes presentear com uma pequena amostra!!! Comunicarei quando da chegada em seu castelo, da encomenda do líquido precioso!!!

Das águas do Rio Vermelho


(eu morro de rir com isso!!! A cachaça eu mandarei de verdade)

6:20 PM  

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