Wednesday, January 25, 2006



Nem sempre Recordar é Viver, às vezes recordamos o tempo em que se morria só por falar!

Uma vez que determinámos que portugal tem a memória curta, decidimos inserir aqui um bocadinho de história, só para não se esquecerem!...

Este foi um texto extraído de um documento público:
'Um sítio mandado construir a 23 de Abril de 1939 pelo governo colonial português chefiado por António Oliveira Salazar para albergar presos políticos e sociais. Isto para ilustrar que os jovens do Tarrafal e de Cabo Verde desconhecem a história de sofrimento, dor e resistência que conta o espaço. Hoje, no dia que completam 69 anos da criação da Colónia Penal, o ex. Comandante militar, Júlio Monteiro, promove uma visita guiada ao ex. Campo com as associações juvenis do Concelho do Tarrafal. Monteiro foi responsável pelo treinamento militar no ex. Campo, depois da Independência Nacional e alimenta o sonho de um dia ver o sítio transformado em museu e numa escola profissional para jovens.O projecto sobre a ex. Colónia Penal de que se ouve falar diz respeito à sua transformação em museu de resistência.Lamentável, entretanto, é o estado de conservação do espaço: grades que caem, tectos e paredes em ruína e a aparência de um total abandono. As pequenas intervenções havidas no ex. Campo são insignificantes diante do peso da memória que carrega. O Edil local, diz, entretanto, estar certo, de que dentro de um ano a ex. Colónia Penal de Cabo Verde poderá vir a ser digno de lugar de memória.'

E, ainda, para se recordarem mais uma vez, e ninguém se esquecer mesmo nunca...

Outro texto extraído de um documento público, desta vez em língua inglesa, para mais pessoas poderem ter acesso!...

'Tarrafal Concentration Camp
TARRAFAL, CAPE VERDE
Some 600 kilometers off the west coast of Senegal, the Cape Verde archipelago was first settled in the fifteenth century by the Portuguese, who controlled the islands for more than five centuries, during which time they used them as a hub for shipping and the slave trade. In 1933, the Portuguese dictator Antonio de Oliveira Salazar established the prison camp of Tarrafal on Santiago Island, where all manner of political opponents as well as African nationalists rebelling against colonial rule in Cape Verde, Angola, and Guinea-Bissau were imprisoned and tortured. This continued until Cape Verde gained its independence in 1975. Since then, the complex, which contains prison cells, administrative facilities, and a small railway for the transport of supplies and fuel, has been used as a military base, a refugee camp, a storage facility, and a school. Over the past three decades, the prison has been disfigured and damaged as a result of such alterations and neglect. Most of its buildings lack windows and doors, and many of the buildings’ roofs are missing or badly damaged. It is often difficult to find support for places that highlight dark chapters in human history, but such sites are important reminders of what is at stake in the universal quest for freedom. It is for this reason that the Association of Former Political Prisoners of Cape Verde is seeking to restore the Tarrafal complex as a museum. It is hoped that listing will raise public awareness of this politically potent site.'

Agora, aqueles que não sabiam, ou se esqueceram, já podem iniciar as suas próprias pesquizas e aprender o que foi Portugal durante 48 anos, até ao 25 de Abril de 1974!...
Poetas e artistas, através da vontade de serem livres, e da necessidade de gritarem liberdade, durante e depois desses duros anos de ditadura e repressão, continuaram sempre, muitas vezes com algum perigo, a expôr os crimes à liberdade humana. E eu não posso, de forma alguma, deixar de integrar aqui um poema, da autoria de José Carlos Ary dos Santos:

Aos Mortos-Vivos do Tarrafal

Ao cabo de Cabo Verde

dobrado o cabo da guerra

quando o mar sabia a sede

e o sangue cheirava a terra

acabou por ser mais forte

a esperança perseguida

porque aconteceu a morte

sem que se acabasse a vida.

Ao cabo de Cabo Verde

no campo do Tarrafal

é que o futuro se ergue

verde-rubro Portugal

é que o passado se perde

na tumba colonial.

Ao cabo de Cabo Verde

não morreu o ideal.

Entre o chicote e a malária

entre a fome e as bilioses

os mártires da classe operária

recuperam suas vozes.

E vêm dizer aqui

do cabo de Cabo Verde

que não morreram ali

porque a esperança não se perde.

Bento Gonçalves torneiro

ainda trabalhas o ferro

deste povo verdadeiro

sem a ferrugem do erro.

Caldeira de nome Alfredo

fervilham no teu caixão

contra o ódio e contra o medo

gérmens de trigo e de pão.

E tu também Araújo

e tu também Castelhano

e também cada marujo

que morreu a todo o pano.

Todos vivos! Todos nossos!

vinte trinta cem ou mil

nenhum de vós é só ossos

sois todos cravos de Abril!

No campo do Tarrafal

no sítio da frigideira

hasteava Portugal

a sua maior bandeira.

Bandeira feita em segredo

com as agulhas das dores

pois o tempo do degredo

mudava o sentido às cores:

o verde de Cabo Verde

o chão da reforma agrária

e o Sol vermelho esta sede

duma água proletária.

Do cabo de Cabo Verde

chegam tão vivos os mortos

que um monumento se ergue

para cama dos seus corpos.

Pois se o sono é como o vento

que motiva um golpe de asa

é a vida o monumento

dos que voltaram a casa.


Abraços das Nobres Cozinhas!

CBC

6 Comments:

Anonymous Anonymous disse...

Obrigada por ajudares a relembrar a quem esqueceu e a despertar a curiosidade a quem não sabe.
Obrigada também por nos trazeres a maravilhosa poesia do Zé Carlos.
Beijos.

12:02 PM  
Blogger Nuno Zeppo disse...

ou ainda lhe acontece o mesmo que aconteceu com a sede da PIDE que foi demolida para dar lugar a condomínio de luxo. Se as memórias são incómodas e ainda por cima podem facturar à brava...
Não tarda muito temos um McDonalds no mosteiro dos Jerónimos

3:53 PM  
Anonymous Anonymous disse...

A Vila do Tarrafal ficou tristemente célebre, por albergar um campo de concentração onde eram encerrados os inimigos políticos do regime ditatorial de Salazar.

Campo de concentração é o estabelecimento utilizado para a detenção, suposta reeducação, exploração de mão-de-obra gratuita ou mesmo extermínio de presos políticos, prisioneiros de guerra e membros de grupos étnicos, por motivos ideológicos, políticos e militares.

Em diversos momentos da história, a combinação de autoritarismo político e uso arbitrário do poder militar, levou ao surgimento de campos de concentração.

Origem: Wikipédia

=-=-=-=-=-=-=-=-=

A Ditadura Militar no Brasil, vai de 1964 a 1985, porém, a crise política se arrastava desde a renúncia de Jânio Quadros em 1961. O vice de Jânio era João Goulart, que assumiu a presidência num clima político adverso. O governo de João Goulart (1961-1964) foi marcado pela abertura às organizações sociais. Estudantes, povo e trabalhadores ganharam espaço, causando a preocupação das classes conservadoras como, empresários, banqueiros, igreja católica, militares e classe média. Todos temiam uma guinada do Brasil. O estilo populista e de esquerda, evidente no país da época, gerou uma certa preocupação nos EUA, que junto com as classes conservadoras brasileiras, temiam um golpe comunista.
No dia 13 de março de 1964, João Goulart realiza um grande comício na Central do Brasil ( Rio de Janeiro ), onde defende as Reformas de Base. Neste plano, Jango prometia mudanças radicais na estrutura agrária, econômica e educacional. Seis dias depois, em 19 de março, os conservadores organizam uma manifestação contra as intenções de João Goulart. Foi a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que reuniu milhares de pessoas pelas ruas do centro da cidade de São Paulo.
O clima de crise política e as tensões sociais aumentavam a cada dia. No dia 31 de março de 1964, tropas de Minas Gerais e São Paulo saem às ruas. Para evitar uma guerra civil, Jango deixa o país refugiando-se no Uruguai. Os militares tomam o poder. Em 9 de abril, é decretado o Ato Institucional Número1 ( AI-1 ).
O governo militar impõe, em janeiro de 1967, uma nova Constituição para o país. Aprovada neste mesmo ano, a Constituição de 1967 confirma e institucionaliza o regime militar e suas formas de atuação.
De 1967 a 1969, durante o pior de todos os governos, o país é agitado por protestos e manifestações sociais. A oposição ao regime militar cresce. A UNE - União Nacional dos Estudantes - organiza, no Rio de Janeiro, a Passeata dos Cem Mil.
Em Contagem (MG) e Osasco (SP), greves de operários paralisam fábricas em protesto ao regime militar.
A guerrilha urbana começa a se organizar. Formada por jovens idealistas de esquerda, assaltam bancos e seqüestram embaixadores para obterem fundos para o movimento de oposição armada.
No dia 13 de dezembro de 1968, o governo decreta o Ato Institucional Número 5 ( AI-5 ). Este foi o mais duro golpe do governo militar. Aposentou juízes, cassou mandatos, acabou com as garantias do habeas-corpus e aumentou a repressão militar e policial.

O país que já vivia às sombras, a partir de então, mergulha completamente na escuridão. Em 18 de setembro, o governo decreta a Lei de Segurança Nacional. Esta era a lei do exílio e pena de morte em casos de "guerra psicológica adversa, revolucionária, ou subversiva". Muitos mortos, desaparecidos, torturados, oprimidos, humilhados, sofridos.
O fim do regime militar no Brasil, ocorreu em 15 de janeiro de 1985. Em 1988 é aprovada uma nova constituição para o Brasil. A Constituição de 1988 apagou os rastros da ditadura militar e estabeleceu princípios democráticos no país.

Nunca se soube de algum Tarrafal declarado, escancarado, no Brasil, mais isso certamente em razão desse mesmo Brasil, ter-se transformado em um imenso Tarrafal.
A ditadura, é nociva sempre e o tamanho da dor que fica, nunca poderá ser comparada ou medida, mesmo depois de muitos anos passados. Cada marca deixada, mede exatamente o tamanho das divisas de cada território e sentimentos de liberdade se seu povo. Por essa mesma razão, busca-se esquecer... Talvez esteja aí, o grande erro. Todo mal vivido, somente poderá ser esquecido, depois de totalmente esclarecido. É desse modo que ele passa a ser resolvido. Certamente não é o que fazemos, nem do lado de cá e nem do lado de lá da grande lâmina dágua.

Cordiais Saudações
Das águas do Rio Vermelho

10:02 PM  
Anonymous Anonymous disse...

Apenas para refletir:


Em 19 de março, os conservadores organizam uma manifestação contra as intenções de João Goulart. Foi a "Marcha da Família com Deus pela Liberdade", que reuniu milhares de pessoas pelas ruas do centro da cidade de São Paulo.

Esse deve ter sido o primeiro movimento para o famigerado ato público, tão praticado nos dias de hoje...

"O POVO UNIDO JAMAIS SERÁ VENCIDO",

E fez-se a união!!!
Uniram-se tanto, que acabaram de braços dados com os militares!!!
Unidos, cegos e tolos e a conta disso, continua sendo paga e a peso de ouro!!!

Reverências Nobres Condes
Das águas do Rio Vermelho

10:47 PM  
Blogger Nuno Zeppo disse...

Estimada Baronesa,

Os nossos respeitos e agradecimentos pelo esclarecimento desse periodo negro da história desse país tão vasto, abaixo da cintura invisível deste pequeno globo, tão cheio de conflito.
E tem vossa senhoria toda a razão que com falas mansas se enganam os tolos, e ás vezes engana-se um país inteiro!...
Por isso, é preciso não esquecer nunca, para não se ter de repetir o erro mais uma vez!
Abraços,

CBC

11:06 PM  
Anonymous Anonymous disse...

Mensagem da Duquesa do Alecrim

Bom Dia Nobres Condes dos Burriés e Nobre Senhor Visconde de Montanelas

Minha cara amiga, a Nobre Senhora, Duquesa do Alecrim, pede que eu vos avise que no momento ela encontra-se às voltas com a saúde debilitada de um de seus fiés escudeiros - o temível Ozzi - que ingeriu uma planta venenosa, rara, que ela e o Duque, insistiam em cultivar no jardim interno de um dos labirintos da mansão que eles possuem, em terras de Caldas da Imperatriz. Tão logo quanto possível, ela virá para cumprimentá-los e fornecer-lhes a tal receita dos nossos pastéis.

Saudações Nobres Senhores!!!
Das águas do Rio Vermelho

8:24 AM  

Post a Comment

<< Home