Tuesday, February 21, 2006

A História do Café, contada por um antigo Sultão... (1ª Parte de 6)
(Estes artigos foram originalmente publicados numa coluna do jornal Semanário, em Toronto, Ontário, nas Terras Frias do Canadá, pelo Conde de Burriés de Cima, graças ao gracioso convite do Visconde de Montanelas)

Todos sabemos que o Petróleo é a primeira comodidade mundial, o produto mais procurado. Também sabemos que é esse mesmo produto, e todos os seus derivados, a razão de tantas intrigas e desacatos no mundo, desde problemas económicos a conflítos políticos de interesse, tudo isto por causa de simples petróleo, rocha sedimentar, líquida, que se encontra, frequentemente, em mananciais, sendo essas fontes naturais mais conhecidas por jazidas, ou depósitos de petróleo, e que, depois de refinado, se apresenta em variações tão cómodas como a gasolina, o òleo de aquecimento, e por aí fora, até aos ingredientes de alguns produtos alimentares dos quais não iremos falar!… Porém, não foi por causa do petróleo que eu começei a escrever estas linhas. Em vez disso, vou falar acerca da segunda maior comodidade do mundo, um outro produto igualmente muito procurado e utilizado e que tem um papel tão importante nas nossas vidas. Neste momento, enquanto estou a escrever esta crónica, eu próprio me resigno a reconhecer que estou a utilizar este produto de que falo, esta tal segunda maior comodidade do mundo, e acredito que muitos dos caros leitores que estão a ter a delicadeza de a ler, e falo da crónica, estão provavelmente, e igualmente a saborear um pouco deste produto. Falo do café!…
Pois é, amigos, o café, depois do petróleo, é a segunda comodidade mundial, representando um papel importantíssimo não só nas manhãs e nos dias de cada um, mas igualmente na estrutura económica do mundo. O meu objectivo, ao escrever este artigo, é levar um pouco da história do café e suas consequênçias à caneca de cada um. Esta não é uma história fácil de contar, nem de explicar, por isso peço um pouco da vossa paciência para viajarem comigo no espaço e no tempo.


Não existe uma data concreta acerca do início da utilização do café, como bebida. Porém, existem alguns factos e histórias, mais ou menos concretas, que foram adoptadas para reconstruír a história desta poção mágica.

A história do café tem iníçio em terras do Norte de Àfrica, nos arredores do extremo sul da Península Arábica, em países hoje conhecidos como o Yémen e a Etiópia. Será, no entanto, importante reconhecer que o café será originalmente proveniente do Yémen, tendo sido aí primeiramente utilizado, e introduzido mais tarde na Etiópia, atravessando assim o Mar Vermelho. Dada a proximidade das duas regiões e tendo em conta as esporádicas trocas comerciais entre estes dois reinos desde cerca do século VII A.C., não existe uma necessidade absoluta de algum acontecimento histórico importante para explicar o acontecimento. Porém, a invasão da Etiópia, e a consequente ocupação do Yémen, e do resto do sul da Arábia, em 525 A.C., pode dar mais alguma luz ao caso. A Etiópia governou o Yémen durante cerca de 50 anos, o tempo suficiente para a existência de trocas de informação culturais, tal como as propriedades estimulantes de uma pequena baga vermelha (drupa) e as suas aplicações e prácticas de agricultura!… Segundo reza a história, um jovem guardador de ovelhas, conhecido pelo nome de Kaldi, foi avistado por um monge de um mosteiro do Yémen em alegre atitude de euforia, saltando e dançando juntamente com as cabras, depois de estes, o guardador de cabras e elas, terem ingerido algumas das bagas vermelhas (drupas), oríundas de um pequeno arbusto de folhas verde escuras. O monge, decidido a dar uma atenção mais pormenorizada a essas bagas vermelhas, decidiu recolher algumas, e iniciar algumas experiências. Talvez a mesma euforia que transpirava do jovem Kaldi pudesse ser transferida para o mosteiro, e os monges talvez pudessem dar mais atenção aos sermões, e mostrar um pouco mais de fervor em vez de adormecerem descaradamente durante as missas!…
Uma das experiências aparentemente conduzidas foi a de ferver as sementes em àgua. Se bem que a poção não tivesse um sabor particularmente agradável, foi descrita como sendo uma bebida estimulante e demonstrou alguns efeitos positivos no decorrer dos sermões uma vez que os monges se mantinham bem acordados para as cerimónias! Entretanto, por algum acaso de circunstâncias, decerto que alguém decidiu deitar para uma fogueira as sementes do famoso arbusto, causando dessa forma o aquecimento pelo fogo das drupas, e descobrindo-se assim o processo da torrefação do café. O agradável cheiro do café torrado não deve ter passado despercebido, e daí a provar as mesmas sementes, agora torradas, e fervê-las de novo, não deve ter sido um processo muito longo, vindo-se a criar assim a famosa bebida mágica que nós tão bem conhecemos pelo nome de café, bica, cimbalino, italiana, e por aí fora com todas as actuais variações, com ou sem leite, ou mesmo com um cheirinho!…

A questão seguinte é tentar traçar uma linha entre a descoberta do café, e a sua utilização, pelos povos do Yémen e da Etiópia, e a forma como o café chegou até nós, povos de brandos costumes, na Europa, e mais tarde na América do Norte, tendo em conta que, hoje em dia, os Estados Unidos são os maiores importadores de café do mundo, e os maiores consumidores também, apesar da ilusão de que a Europa seria a merecedora de tal título!

De facto,os primeiros relatórios, dignos de referência e justa prova, acerca da utilização do café, e que chegaram oficialmente ao nosso conhecimento, são provenientes de antigos tratados Àrabes que datam de cerca do século IX da nossa era. Estes são os documentos que fazem alusão á existência de uma bebida, obtida através da fervura de drupas verdes, produzindo uma beberagem estimulante, semelhante ao chá. O processo que consiste na torrefação dos grãos verdes de café, e que causam a libertação do seu aroma, foi um segredo cautelosamente guardado pelos Àrabes, até á Idade Média, que beneficiaram excelentemente desse monopólio. Revelado o segredo, por uma princesa Àrabe ao seu marido, em Constantinopla, o café tornou-se, em muito pouco tempo, o objecto de um comércio intensivo de troca com a Europa.

O Embaixador da República de Veneza relatou ao senado que os Turcos tinham o hábito de beber uma poção negra, o mais quente possível. Essa poção era extraída de uma planta conhecida por "Cavee", e que tinha a curiosa propriedade de manter uma pessoa em absoluto estado de alerta. Esta bebida milagrosa, primeiro usada na Europa, em Itália, pelos Venezianos, foi importada para França, em 1670, por um Siciliano que abriu o primeiro dos famosos Cafés de Paris.

A venda do café, originalmente promovida para combater o alcoolismo, encontrou em pouco tempo alguma resistência oferecida por tradicionalistas que viram a bebida como uma invenção diabólica dos Infiéis Árabes. Porém, quando exposto á questão acerca do café, o Papa Clemente VIII declarou que a bebida era deliciosa demais para ser abandonada aos Infiéis e promoveu o café a uma "bebida cristã"!…

O Império Holandês conseguiu transportar uma planta viva do café, do Yémen, em 1690, tendo dessa forma eliminado o monopólio Àrabe. Em 1706 os Soberanos Holandeses ofereceram plantas do café a todas as grandes cortes da altura. Luís XIV, de França, pouco impressionado com a novidade da altura, deu a planta ao Botânico Real, que foi bem sucedido no desenvolvimento e crescimento da planta nos Jardins Botânicos de Paris!

Um jovem oficial da Marinha, chamado Gabriel Mathieu de Cleu, que conhecendo as condições climatéricas das Colónias Holandesas, concluíu que o café podia ser facilmente plantado nas Colónias Francesas da América. Robou várias plantas do café que se encontravam cuidadosamente guardadas no Jardim Botânico e levou-as, a bordo de um navio de mercadorias com destino à Martinica.
A travessia foi bastante dura, e apesar destas plantas preciosas terem sobrevivido ao saque de pirataria, foram completamente encharcadas com àgua salgada durante uma violenta tempestade, e sofreram logo depois uma falta de água. Grabriel de Cleu teve de partilhar a sua ração diária de àgua de forma a poder fazer chegar a sua preciosa mercadoria ao porto. Apesar de toas as peripécias, as plantas mostraram-se particularmente fortes e resistentes a todos os maltratos a que foram sujeitas, e dentro de pouco tempo cresciam em grande quantidade nas Ìndias do Oeste, e foram mesmo encontradas nas Colónias Francesas e Holandesas, mais a sul, onde a venda de rebentos de grãos de café era punída com a pena de morte!

Em 1727, o Brazil estava preparado para pagar qualquer preço para obter uma destas plantas. O fim do conflito territorial entre as Guíanas Francesas e Holandesas era eminente, e o Brazil foi escolhido para arbitrar e mediar as negociações. Foi esta embaixada brazileira que teve a oportunidade de procurar obter uma dessas plantas sem ter de pagar monetáriamente por isso. Na embaixada Brazileira encontrava-se um representante militar, o Tenente-Coronel Francisco de Melo Palheta. Apesar da sua ignorânçia acerca do café, era um bom patriota e um excelente homem de negóçios, além disso, o seu charme para com as damas deu-lhe igualmente bastante reputação. Segundo a história, diz-se que ele não só cumpriu a sua missão, com êxito, mas que se tornou igualmente um dedicado companheiro da esposa do Governador Françês!…
Em agradecimento dos seus prestigiados serviços, o Governador ofereceu um banquete em sua honra e, durante as festividades, a esposa do Governador ofereceu-lhe um ramo de flores onde se encontravam, escondidas, as preciosas sementes frescas de café e alguns rebentos.

Hoje em dia, o Brazil, é o maior produtor de café do mundo. Existem mais de 25 milhões de acres de café plantados em cerca de 50 países, ao longo da faixa tropical do globo, e é a fonte de sustento para cerca de 20 milhões de pessoas, sendo a principal fonte de exportação para muitos países na África e na América do Sul. É o segundo produto mais exportado no mundo, a seguir ao petróleo! (Continua…)

3 Comments:

Blogger Lâmina d'Água & Silêncio disse...

Meu Nobre Conde de Burriés

Tenho andado assoberbadíssima e por conta disso, deixo aqui minhas escusas por ter estado um tanto ausente, mas em breve retomarei nossas adocicadas conversas de final de tarde em sua encantadora cozinha, já com todo esse conhecimento adquirido através de suas importantíssimas colocações e banhado à bebida que eu mais aprecio, que é o café!!!

No entanto, minha vinda até suas terras geladas do norte, hoje, deve-se a um outro motivo por sua razão acabei nisso:

Lâmina D'Água

Ocorre que por ocasião da campanha contra à caça da baleia no hemisfério sul, andei viajando e conhecendo seus amigos e acabei aportando pelo espaço do senhor Desambientado. Lá encontrei um assunto onde as terras quentes de cá, estavam sendo faladas e aí... Pronto!!!Como sempre, escrevi metros!!! Falei, falei e acabei acontecendo, por sugestão dele. Mas mal testei a ferragem da minha vigia e ela emperrou... Não havia quem a fizesse voltar e enquanto testava e forçava, ia tentando postar e postar. Com isso, estive fora do ar por um bom tempo e só voltei ontem, também graças e esforço do senhor Desambientado e então, cá estou eu para lhe apresentar minha janelinha, pois é o senhor, o maior responsável por ela!!! Sinta-se à vontade para espreitá-la e faça dela um espaço também seu!!! Aqui sempre haverá uma cadeira confortável, pertinho do meu fogão, para trocas, regadas a boas risadas, carinho e emoção!!!
O convite é extensivo também, ao meu queridíssimo Senhor Visconde de Montanelas, que não foi participado antes, por eu considerar que o Senhor , Nobre Conde, devia mesmo ser o primeiro a saber.

Reverências
Baronesa de Rio Vermelho
Das águas de mesmo nome!!!

ò,ó

7:01 AM  
Blogger Lâmina d'Água & Silêncio disse...

This comment has been removed by a blog administrator.

7:26 AM  
Blogger Lâmina d'Água & Silêncio disse...

Nobres Condes!!!

Esqueci de fazer uma colocação, relacionada aos antigos costumes dos habitantes daqui da ilha, descendentes dos portugueses. Trata-se de um costume que ainda persiste, mas agora já em outros moldes.
Até pouquíssimo tempo, quando se chegava na casa de algum desses nativos, eles corriam a nos oferecer um "aparadinho"!!!

Aparadinho é como eles chamavam o café que era passado na hora, com os gãos colhidos da pequena plantação do quintal e que só era moído, no momento de ser tomado. Até pouquíssimo tempo, ainda sentía-se o maravilho cheirinho dos grãos de café sendo torrado nos grandes tachos usados para a fabricação das farinhas de mandioca, nos engenhos.

Na baixa da safra da mandioca, os engenhos eram usados para a torrefação do café.

Reverências!!!

Baronesa de Rio Vermelho
Das águas de mesmo nome!!!

ò,ó

7:28 AM  

Post a Comment

<< Home