Thursday, February 23, 2006

A História do Café, contada por um antigo Sultão... (2ª Parte de 6)
(Estes artigos foram originalmente publicados numa coluna do jornal Semanário, em Toronto, Ontário, nas Terras Frias do Canadá, pelo Conde de Burriés de Cima, graças ao gracioso convite do Visconde de Montanelas)

No artigo anterior explorámos um pouco das origens e da importância do café, a nível global. Desta vez, enquanto aprecio uma chávena de um bom café da Nova Guiné á medida que vou continuando a escrever esta crónica, vou levá-los a uma outra viagem, desta vez ao complicado processo do tratamento e cultivo do café, do arbusto até ás nossas chávenas.

Já sabemos que o café, originário da Àfrica, tendo sido primeiramente cultivado no Iémen, é nos nossos dias cultivado em cerca de 50 países em torno da cintura equatorial do globo, entre os Trópicos de Cancer e de Capricórnio. Este arbusto, de folha persistente, existe no estado selvagem em mais de 60 variedades da família do café, podendo atingir 6 metros de altura!
Porém, apenas duas variedades do café são utilizáveis para fins comerciais e de consumo. Essas variedades são chamadas Arábica (Coffea Arábica), e Robusta (Coffea Robusta). Uma planta do café, cultivada, pode produzir cerca de 700 gramas de café torrado, por ano, durante 25 anos, aproximadamente.

Esta delicada planta é muito susceptível ao frio, à geada, secas, luz solar e mudanças súbitas de clima, e todos estes factores estão fora do nosso alcançe de controle, estando este cultivo dependente simplesmente de condições climatéricas propícias.
O café de melhor qualidade provém de plantações localizadas nas encostas das regiões montanhosas mais elevadas. De uma maneira geral, estas plantas de café crescem á sombra, sob o abrigo das florestas tropicais onde as condições climatéricas são mais estáveis e estas plantas se encontram mais abrigadas. Geralmente, estas práticas de plantações á sombra são igualmente acompanhadas de uma ausência de utilização de componentes químicos, tais como fertilizantes, adúbos sintéticos ou pesticidas, sustentando um sistema ecológico não prejudicial, e um balanço natural do ambiente.

Mesmo assim, e tendo em conta todos os benefícios deste tipo de plantações de café orgânico, o elevado risco de geadas e de variações de temperatura nas montanhas é responsável pelo preço mais alto no mercado destes cafés de melhor qualidade, porém, um preço digno de se pagar, se tivermos em conta as condições de tratamento a que as plantações ao sol são expostas!
Os tipos de plantações de café usado para fins comerciais, em geral grandes fazendas, é feito pela exposição das plantas de café ao sol, durante todo o dia. Este tipo de plantações produz quantidades de café muito mais elevadas do que as plantações á sombra, nas encostas montanhosas.
Neste caso, estas plantações são intensamente tratadas com pesticidas e fertilizantes químicos, e de uma maneira geral são criadas a partir de híbridos que resistem melhor ás condições climatéricas. Este tipo de café é de uma qualidade muito inferior, mas é produzido desta forma para poder responder á necessidade de consumo mundial, e é assim produzido em enormes quantidades. Ao mesmo tempo, este tipo de plantação, geralmente feita a baixas altitudes, em vales e vastas planícies, permite um acesso mais fácil ás estações de tratamento da drupa. Porém, tem sido provado que produz consequênçias gravíssimas para o ambiente e para a saúde dos trabalhadores que têm a tarefa de recolher as drupas á medida que estas amadurecem. Este é um processo manual que exige muitas horas de trabalho e exposição aos produtos químicos a que estas plantações são sujeitas. As drupas são verdes, e tornam-se vermelhas á medida que amadurecem, sendo recolhidas apenas nesse estado de amadurecimento. Depois de colhidas, as drupas são secas, lavadas, polidas, separadas por tamanho e qualidade, e finalmente armazenadas em sacos de sarrão que podem conter entre 60 e 70 kilos de sementes de café verde, pronto a ser torrado.

Os cafés de melhor qualidade são o tipo Arábica, provenientes das elevações mais altas, em plantações á sombra, orgânicas, livres de qualquer tipo de interferênçia química quer de adúbos ou pesticidas. Este tipo de plante produz drupas que são muito apreciadas pelo seu aroma, acidez e um sabor delicado. Cresce em temperaturas que variam entre os 20 e os 24 graus centígrados e é cultivada em altítudes por vezes superiores a 2000 metros. Este tipo de café é geralmente encontrado em casas de especialidade, ou micro-torrefações, e o preço, de uma forma geral, reflecte a qualidade da origem.

O outro tipo de café, Robusta, cresce em altitudes inferiores a 1000 metros, e mesmo em regiões muito húmidas. Esta planta, como já mençionámos, é mais prolífica do que o tipo Arábica, e produz o dobro de drupas em relação á primeira. Este tipo de café é utilizado primariamente por grandes companhias, e encontra-se disponível em todo o lado, com o rótulo das grandes companhias comerciais mais conhecidas e vulgares.
O café tipo Robusta, além de ter sido tratado com químicos pesticidas, contém também uma percentagem mais elevada de cafeína do que o tipo Arábica, sendo este valor superior até cerca de 30 ou 40 por cento, e apresenta igualmente um sabor forte e amargo. No melhor dos casos, pode ser misturado , em pequenas quantidades, com o tipo Arábica, para acentuar o sabor da mistura, e dar-lhe um pouco mais de cafeína.
Na Europa, o tipo de café Robusta é o mais utilizado, se bem que nos últimos cinco anos exista já um grupo de consumidores mais interessados em café orgânico de uma qualidade superior, mais interessados no sabor do que na cafeína. De uma forma geral, os cafés de tipo Arábica são vendidos com o nome do país de origem, porto de embarque, e mesmo local de produção. Por exemplo, Costa Rica Tarrazu, indicando o país e local de origem.

Na América do Norte, o interesse por cafés de qualidade superior cresceu mais rapidamente, e nesta altura, a maior parte do café que se consome em casas de especialidade, e mesmo em alguns supermercados, é já mais ou menos garantido ser café Arábica, ou mesmo um lote de mistura contendo uma boa percentagem de café Arábica. Geralmente, o rótulo indicará se o café é de tipo Arábica, ou não. Se o rótulo não mencionar o tipo, é quase guarantido ser do tipo Robusta! Neste caso, o rótulo limita-se a indicar o tipo de moagem ou o nome do lote.
Vamos agora dar um passeio e descobrir a importância do café em alguns países.
O Brazil é o maior produtor de café do mundo, e o segundo maior consumidor, depois dos Estados Unidos! O Brazil consome cerca de 1.5 biliões de libras de café por ano. Existem cerca de 230,000 fazendas de café, que empregam um total de 5 milhões de trabalhadores que vivem deste comércio. O Brazil produz entre 20 e 40 milhões de sacos de café por ano, e consome cerca de 11 milhões destes sacos. 85% da produção é do tipo Arábica, e 15 % do tipo Robusta. A indústria do café cria cerca de 10% do Produto Nacional Bruto da Nação Brasileira!

Nos próximos artigos, visitaremos outros locais de importância no comércio do café.

Este comércio tem sido cuidadosamente explorado, e mesmo mantido sob algum segredo e proteção, apenas para o benefício de alguns. Será importante reconhecer que a maioria dos países produtores de café são países de Terceiro Mundo, ou em vias de desenvolvimento, e os trabalhadores dessa indústria são geralmente muito pobres. Tendo em conta que este é o segundo produto mais procurado no mundo, alguém está a beneficiar muito deste comércio, e é òbvio que não é o produtor, e quem trabalha a terra!…Mas onde é que eu já vi isto?…Bem, este é um assunto que eu prometo tornar a explorar, e falaremos então de novas prácticas de comércio justo, ou justiça económica social, que estão já a ser aplicadas em alguns locais, a nível global, e que têm o objectivo de criar melhores condições de vida para estes trabalhadores do comércio do café, e igualmente no comércio do chá, do açúcar, do cacau, das bananas e do mel!
(continua)

3 Comments:

Blogger Lâmina d'Água & Silêncio disse...

Estimado Senhor Conde de Burriés

Saiba que fiquei encantada em recebê-lo e sempre serás muito bem vindo. Além disso, tudo por lá também lhe pertence e o Senhor poderá fazer o uso que melhor lhe convier!!!

Agora que já sei que o Nobre Senhor é um expert em minha bebidinha preferida, na sua próxima vinda, lhe entregarei meu fogão, para que o distinto Conde o pilote!!!

Reverências...

Baronesa de Rio Vermelho
Das águas de mesmo nome

6:41 PM  
Blogger Lâmina d'Água & Silêncio disse...

Pois então... Pelo visto o Nobre Conde possui cá, uma bela e rentável plantação...

Um Nobre Conde, plantador de bons paladares!!! E eu sei que o senhor é bastante entendido em cafés. Já me contaram também , de uma receita de família, um tal de "Café Maricas"!!!
O senhor vais nos brindar com suas delícias de receitas de café???

Temos aqui algumas receitas, mas lamentavelmente o meu forte mesmo, diante dessa maravilhosa bebida, é tomá-la!!! E muito,pois eu a adoro!!!

Reverências para o seu dia Nobre Conde!!!

Baronesa do Rio Vermelho
Das águas de mesmo nome

5:49 AM  
Blogger Nuno Zeppo disse...

Estimadíssima Baronesa,

É com o maior prazer que iremos publicar as nossas receitas de café, juntamente com documentação fotográfica, que está neste momento a ser preparada!...Dessa forma, em breve, iremos apresentar a vossas senhorias este nosso cardápio de receitas de café!
Abraços cordiais,

CBC

11:53 AM  

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