Friday, February 24, 2006

A História do Café, contada por um antigo Sultão... (3ª Parte de 6)
(Estes artigos foram originalmente publicados numa coluna do jornal Semanário, em Toronto, Ontário, nas Terras Frias do Canadá, pelo Conde de Burriés de Cima, graças ao gracioso convite do Visconde de Montanelas)
Antes de mais nada, toca a fazer um cafézinho, sentar no sofá mais confortável, apertar os cintos de segurança, as costas do sofá deverão encontrar-se na posição vertical. Estamos neste momento a chegar á Colombia, o ex-segundo país maior produtor de café do mundo, depois do Brazil, e o primeiro maior fornecedor de café do Canadá, sendo o Brazil o maior produtor do mundo e o segundo fornecedor do Canadá! (Neste momento, em que estes artigos estão a ser submetidos a uma revisão, o Vietname passou a ser o segundo maior produtor de café do mundo, do tipo Robusta!)
A Colombia tem cerca de 870,000 héctares de plantações de café, e cerca de 570,000 fazendas. O tamanho médio de uma quinta de café na Colombia é de cerca de 1,5 héctares. A Colombia produz apenas café do tipo Arábica, se bem que a maior parte destas plantações sejam tratadas com adúbos e pesticidas químicos. Em 1999, o Canadá importou cerca de 26,094, 200 Kilos de café, só da Colombia. O nosso amigo Juan Valdez, na realidade, não é mau tipo, foi criado pela Federação Colombiana de Café que, graças á enorme campanha de publicidade que criou para promover o seu café no resto do mundo, criou assim um preço mais elevado para o seu café, permitindo assim um melhor nível de vida para os Cafeteiros da Colombia.
Esta Federação Nacional de Cafeteiros(FNC) é uma cooperativa nacional, inteiramente controlada por produtores membros, elegidos democráticamente. Esta cooperativa foi fundada em 1927, inclui actualmente cerca de 300,000 membros cafeteiros, que são pagos directamente pela federação.
Esta foi a primeira cooperativa fundada por cafeteiros independentes de forma a tentarem proteger-se contra a exploração selvagem do comércio do café, e talvez tenha sido o gatinhar das novas frentes democréticas que tentam, pelo mundo for a, melhorar as condições de vida destes trabalhadores -escravos da indústria do café, tais como o Comércio Justo, o Altromercato, Max Havelaar, Transfair e Fair Trade.

Na verdade, quer o café da Colombia ou do Brazil, não podem sequer ser considerados entre os 10 melhores cafés do mundo! Eu sei, os meus amigos, nesta altura já tiraram o cinto de segurança da sua poltrona, e provavelmente estão um pouco chocado com a revelação. Não desanimem, os melhores cafés do mundo provêm das zonas do Arquipélago Indonésio, sendo os melhores cafés do mundo o de Timor, e deste local tornaremos a falar porque o café deste lugar está em sérios sarilhos, da Papua Nova Guiné, de Java, da Sumatra, de Sulawesi, antigamente conhecida pela Ilha de Celebes, e daí teríamos de viajar até ao continente Africano. Mas não nos vamos já perder em questões de qualidade e voltemos á Colombia, o terceiro maior produtor de café do mundo, como dizíamos.

A FNC garante sempre a compra da produção inteira do soçio, e paga directamente ao Cafeteiro. Este, porém, pode escolher vender a sua colheita independentemente, a qualquer exportador privado.

Apenas numa nota de rodapé, penso que chegou a altura de revelar aos meus amigos que custa uma média de 120 escudos, ou 0.6 Euros a um cafeteiro para produzir 1 quilo de café verde. De uma maneira geral, o preço oferecido a esse mesmo cafeteiro pelo seu quilo de café é cerca de 15 a 25 escudos, ou 7 cêntimos de Euro! Como os meus amigos devem calcular, os cafeteiros não se encontram muito satisfeitos. Apenas com a proteção do Comércio Justo, o café terá de ser pago ao cafeteiro a cerca de 3.60 USD por quilo! A corrente de intermediários existentes entre a plantação de café e a loja onde compramos o café, é enorme. De um modo geral temos o cafeteiro, na plantação, que de uma maneira geral é o dono da terra e aí trabalha. Também existem as plantações que empregam trabalho manual das aldeias vizinhas. Neste caso, os trabalhadores são quase sempre mal pagos, e o dono da fazenda tem a estação de tratamento da drupa na própria plantação e vende directamente aos importadores, ou, no melhor dos casos, exporta directamente. Nesta situação, os donos destas fazendas, também conhecidos por exploradores, ou coiotes, ganham cerca de 200% de lucro na transação.

No primeiro caso, onde o cafeteiro tem apenas uma pequena parcela de terra, e aí a plantação é alternada, o que significa que entre as plantas do café também crescem alguns vegetais, cana de açucar, passeiam algumas galinhas e a cabrita, neste caso, esse cafeteiro depende dos vizinhos para juntarem o café suficiente para depois o venderem ao coiote que espera ansiosamente pelo trabalho alheio. Até há pouco tempo, era assim que o comércio se tratava.
Daí, o coiote vende o café ao exportador, e quando chega ao lado de cá dos arames, os distribuidores cobram o dobro, uma vez mais, pelo café verde. As torrefações, torram e enpacotam, redistribuem para o retalho, e cobram outra vez o dobro. O retalhista, por sua vez, lá acrescenta uns Euros á coisa, e o meu amigo compra o café a 1.7 Euros o quilo! Eu sei, eu sei, que pode ir ao supermercado comprar uma latinha do café, já moído, e não queria saber o que lá está dentro, senão eu digo-lhe!, e paga só 4 dólares, mas para o meu amigo pagar esse preço, imagine a quanto foi pago o cafeteiro que passou 14 horas a trabalhar para esse quilo de café! Mas continue a saborear o seu cafézinho, afinal eu só estou a remexer um bocadinho na estrutúra sócio-económica do comércio do café, e estou a convidá-lo a participar um pouco mais na nova cadeia que se forma de modo a ajudar os mais desprotegídos a serem mais bem tratados. O processo nem é difícil! Basta começar a perguntar no local onde compra, ou bebe o seu café, se eles têm café do comércio justo, ou Fair Trade, e o amigo não precisa de ser enganado. O café que é protegido pelas leis internacionais do comércio justo têm de ter este símbolo, e depois disso, se o amigo é cibernauta, pode ir á internet e verificar as localidades de quem vende café que reflecte prácticas democráticas do comércio justo. No Canadá, por exemplo, isto pode ser verificado na seguinte direcção da Internet:
www.transfair.ca

Acaba aqui o rodapé e voltamos á Colombia.
Este país exporta dois tipos principais de café, Colombia Supremo e Colombia Excelso. O primeiro apresenta um grão maior com uma qualidade igualmente superior, o segundo, sendo o grão um pouco mais pequeno, não fica muito atrás em termos de qualidade. Apenas em 2001, começou a Colombia a exportar algum café orgânico que está a ter uma boa aceitação nos meios ainda um pouco fechados das micro-torrefações, sendo um café de especialidade, e honrando os príncipios do comércio justo.

As organizações do Comércio Justo, iniciadas na Europa, na Holanda e na Alemanha, há cerca de 20 anos atrás, apostaram primeiro em torrefações independestes para trazerem estes cafés, directamente dos produtores e cafeteiros, eliminando assim todos os intermediários, e pagando um preço justo a que produz. Desta forma, foi criada uma nova cadeia onde os cafeteiros, que estavam continuamente ameaçados com os baixos preços de oferta, tiveram a oportunidade de vender o seu café directamente a quem o iría torrar e vender directamente. O preço de retalho não seria alterado, mas o produtor ganharia o suficiente para melhorar substancialmente a sua qualidade de vida, e ganhar um incentívo para promover o conceito a outros cafeteiros. Deste modo, foram criadas leis internacionais de regulação do comércio de café no mercado justo e equitativo, e o processo correu tão bem que, actualmente, já existem mais de 1000 cooperativas de café no mundo, a beneficiar deste conceito, e os números continuam a crescer! Devido á produção reduzuda de cada cafeteiro independente, foi necessário estipular uma série de critérios para estes cafeteiros poderem beneficiar da organização, e ao mesmo tempo poderem entregar um produto de qualidade de uma forma consistente. Assim, estes cafeteiros independentes, normalmente de uma localidade específica, organizam uma cooperativa, e trabalham juntos sob o mesmo critério, podendo desta maneira atingir quotas mais elevadas de produção de forma a poderem entrar no mercado com uma quantidade razoável de um produto de qualidade. Esta cooperativa vende o café a um torrador, directamente, que geralmente estabelece as condições para a importação do café, e este, paga directamente a essa cooperativa o preço estipulado pelo Comércio Justo, sempre acima dos valores convencionais.
Nesta altura, o Cafeteiro ganha cerca de 4 ou 5 vezes mais do que ganharia de outra forma, não existem intermediários, e o café chega ás nossas mão com a leveza de uma consciência de justiça económica e social global!
Quem diria que uma simples chávena de café teria tanto peso e impacto na economia global?… (continua)

1 Comments:

Anonymous Anonymous disse...

Great site loved it alot, will come back and visit again.
»

5:45 PM  

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