Tuesday, February 28, 2006

A História do Café, contada por um antigo Sultão... (6ª e Última Parte )
(Estes artigos foram originalmente publicados numa coluna do jornal Semanário, em Toronto, Ontário, nas Terras Frias do Canadá, pelo Conde de Burriés de Cima, graças ao gracioso convite do Visconde de Montanelas)

A primeira fonte de recursos monetários de Timor-Leste é o café, e deve ser considerada uma das suas mais importantes indústrias. Os incidentes de Setembro de 1999, em Timor Leste, agora conhecido por Timor Loro Sae, não só marcaram uma nova era para esta nação como criaram, igualmente, um cenário diferente para a indústria do café. Este cenário, porém, é marcado por numerosas constrições que tornam difícil o desenvolvimento natural desta actividade.
A natureza da indústria do café em Timor Loro Sae é diferente de todas as outras no resto do mundo.
Em Timor, a produção de café não é realmente uma "actividade agrícola", mas é caracterizada, simplesmente, pela colheita do café. As pessoas envolvidas neste processo não cultivam ou plantam o café, e não se relaçionam com os princípios típicos da produção de café. Não podem ser chamados produtores de café, ou mesmo agricultores, porque o seu envolvimento com esta produção começa apenas e termina com a época da colheita. Para os meus amigos compreenderem melhor a razão porque é que estes trabalhadores não se tornaram agricultores de café, é necessário considerarmos a natureza dos acontecimentos envolvidos neste cenário da história do café em Timor.
A possessão de terras de cultivo tem sido um constante debate. Primeiro, os Portugueses estabeleceram-se em Timor e iniciaram o desenvolvimento da indústria. Depois, os Indonésios tomaram possessão dos campos de cultivo e o governo tornou-se uma entidade muito importante na sua regulação. Os anteriores agricultores Portugueses tornaram-se então guardiões dos campos de café, derivando a sua fonte de recursos monetários da colheita desse café. A declaração da independência de Timor Leste da Indonésia resultou numa estagnação total do país, neste sector da indústria do café. A furiosa violência desencadeada nessa altura, e a forçado abandono e refúgio do país, acrescentaram uma nova e complicada dimensão á questão do domínio de terras e direitos de propriedade.
Para as pessoas envolvidas na actividade do café, a sua única preocupação reside na possibilidade de poder fazer a colheita da produção. O cultivo da terra é um conceito não existente. As árvores de café que foram plantadas há 80 anos atrás, tornaram-se a abóbada primária da floresta onde uma segunda geração de árvores cresce á sua sombra, sendo esta germinação secundária denominada por "café".
A indústria do café não se desenvolveu muito porque não existe uma força para a desenvolver. Não houve um crescimento atribuído a um aumento de produção ou colheita, ou a novas plantações de café, ou mesmo uma melhoria nas práticas de plantação. A total produção de café, presentemente, comparada com as produções dos anos 50, foi significantemente reduzida de 600 para 100 quilos de drupas por héctare!
Timor Loro Sae tem de competir no mercado internacional. O sucesso da divulgação de Timor como uma fonte primária de café de origem está dependente de um investimento agressivo do sector privado e na organização estrutural da indústria. Os cafés de Timor têm um grande potencial, e existem características ùnicas que diferenciam, claramente, estes cafés de outros produzidos no resto do mundo.
A produção de café orgânico em Timor Leste é uma condição assegurada na indústria do café, por não haver outra forma de produção. Esta é uma condição ùnica que só raramente pode ser encontrada noutros países produtores de café. As culturas orgânicas são presentes devido á ausência de involvimento agrícola em qualquer das práticas culturais, típicas de uma verdadeira actividade agrícola de plantações de café. Porém, as baixas produções de café não têm a ver com as condições orgânicas, mas sim com a falta de administração agrícola.
Com uma administração adequada, no entanto, estas produções orgânicas podem ser bem sucedidas com a actividade do café, e produzir maiores colheitas com drupas de excelente qualidade.
As plantações de café do tipo Arábica, em Timor Leste, foram estabelecidas há 80 anos. Estas plantas foram literalmente abandonadas e, hoje, crescem selvagens. A falta de vigor destas plantas, associada com a idade, é evidente. Os topos das árvores cresceram ao ponto de tornar a colheita muito difícil, e por vezes mesmo impossível. As árvores de sombra cresceram demais e não deixam penetrar luz suficiente, o que reduz a fotossíntese das palntas, resultando numa drástica redução das colheitas.
Não existe produtores ou agricultores de café neste cenário. Apenas pessoas que colhem as drupas, sem conhecimento algum acerca da produção de café.
A colheita do café em Timor leste é um processo em que não existe, ou é aplicado qualquer treino ou matriz de qualidade. A maturação do café, por exemplo, é um termo que tem um significado diferente para cada um dos 44,633 indivíduos que participam na colheita do café!…
Drupas verdes são misturadas com drupas maduras: para estas pessoas, café é café. A colheita de drupas verdes diminuem a quantidade de café que estas pessoas podiam colher, uma vez que estas sementes ainda não completaram o seu crescimento fisiológico, apresentando menos volume e peso.
Também é típico observar a colheita de drupas maduras demais. Isto indica que a colheita não foi feita tão regularmente como deveria ter sido, talvez pela falta de existência de trabalhadores. Drupas secas que caem no chão, são igualmente apanhadas e misturadas com o resto.
A combinação destas pobres práticas de colheita reduzem potencialmente a qualidade deste café, excelente por natureza, de outra forma.
De forma a modificar esta situação, existem uma série de prioridades e regras a ser adoptadas, assim como o desenvolvimento de uma estrutura industrial.
O café tem de se tornar uma prioridade nacional. O papel do governo deverá ser de promoção, e não de regulação. O governo deverá criar um sistema de proteção para os produtores, de forma a minimizar os riscos envolvidos na produção de café. Estes riscos , incontroláveis, têm haver com o clima. Uma das formas do governo participar nessa promoção deverá ser a de criar instrumentos de treino e negociação, e ambientes propícios de investimento. Todo este processo é longo, e não existe tempo a perder. Se o governo de Timor Loro Sae não investir nestas iniciativas, sem demora, as consequências para a economia desta nação são fáceis de adivinhar!…
Quem diria que uma simples chávena de café tinha assim tanta determinação no futuro de uma nação!…Ora toma!…
A partir de agora, quando o amigo for beber um cafézinho, ou comprar o grão para o fazer em casa, não se esqueça da importância do seu cafézinho na estrutura económica e social global!…
Pronto, já está, descarreguei uma série de rúbricas acerca do café, e tenho a sensação de que só toquei ao de leve no assunto. O meu envolvimento, a nível profissional, nesta àrea, iniciou-se há cerca de 8 anos atrás, derivando de um interesse curioso em descobrir o que realmente se passava na indústria do café, da àrvore até á nossa chávena. Nesta situação, não foi a curiosidade que matou o gato, mas foi o gato que matou a curiosidade!
Pé ante pé, envolvi-me com a importação e torrefação de café, investiguei a situação, promovi sempre os conceitos de uma justiça económica e social, a nível global, estou actualmente muito envolvido com a Organização Internacional do Comércio Justo, ajudando a promover esses conceitos, e tenho participado em numerosas actividades de organização de cooperativas cafeteiras e na promoção de café orgânico, na zona do Pacífico, denominadamente na Papua Nova Guiné e em Timor. O comércio Justo, no Canadá e nos Estados Unidos, cresceu, uma vez mais, pela curiosidade desinteressada do que se passa na Europa. Este conceito foi estabelecido há mais de 20 anos em países Europeus desenvolvidos, tais como a Alemanha, a Holanda, logo seguidos da Bélgica (onde o próprio Parlamento consome apenas café derivado de cooperativas protegidas pelas leis do Comércio Justo!), a Suíça, a Finlândia e a Nóruegua.
Nos passados dois anos, iniciou-se uma frente de divulgação e promoção do Comércio Justo nos países da Europa do Sul, nomeadamente, a Itália, Espanha, e Portugal. A organização não-governamental de desenvolvimento, promotora desta iniciativa, em Portugal, foi a CIDAC, Centro de Investigação e Desenvolvimento Amílcar Cabral, e foi com eles que eu tive o prazer de trabalhar na promoção e desenvolvimento do projecto, conhecido pelo Projecto Pangea, que culminou com a visita do Veleiro Finlandês do Comércio Justo em Lisboa, o "Estelle". Durante a permanência deste veleiro em Lisboa, no Parque das Nações, a assiduidade pública não foi grande, mas fez algum barulho para plantar a semente em terras lusitanas. Neste momento, existe uma loja do Comércio Justo em Amarante, e fala-se de outras a abrir em Lisboa e no Porto!…Devagarinho, sem dúvida, mas que estamos a desenvolver, estamos!…
Neste momento, tenho o orgulho de poder lidar directamente com cooperativas democráticas de produção de café, protegidas pelos critérios internacionais do Comércio Justo, em cerca de 12 países, nomeadamente, o México, Guatemala, Colômbia, Nicarágua, Perú, Brazil, Bolívia, Costa Rica, Uganda, Papua Nova Guiné, Timor Loro Sae, e Etiópia.
E eu, que refilava a semana passada por causa do frio, eu, que passo o ano a viagar por terras de café, infelizmente pobres, mas sempre quentes!…
Vou parar aqui mesmo, que o sol bate na janela, aquece-me as costas, e é uma altura óptima para ir beber uma bica!…
Acabamos aqui a história do café, contada por um Sultão, que tão graciosamente visitou estas nossas reais cozinhas, e que deixou, como recordação, umas ricas receitas provenientes do Norte da Índia e do Paquistão, e que em breve deixaremos conhecer, depois das devidas provas feitas nas nossas mesas!...Antes disso, faremos ainda cumprir a promessa de partilhar algumas das nossas melhores receitas de café, e com café!...
Beijinhos e Abraços destas nossas cozinhas reais!
CBC

2 Comments:

Blogger Lâmina d'Água & Silêncio disse...

Meu querido Conde!!!

A única coisa que posso dizer agora, nesse momento, é que plantar café pode gerar confusão de letras!!!

Beijinhos das terras cafeeiras do sul!!!

Baronesa de Rio Vermelho
De águas de mesmo nome!!!

5:29 PM  
Blogger smith disse...

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