Tuesday, February 28, 2006

A História do Café, contada por um antigo Sultão... (6ª e Última Parte )
(Estes artigos foram originalmente publicados numa coluna do jornal Semanário, em Toronto, Ontário, nas Terras Frias do Canadá, pelo Conde de Burriés de Cima, graças ao gracioso convite do Visconde de Montanelas)

A primeira fonte de recursos monetários de Timor-Leste é o café, e deve ser considerada uma das suas mais importantes indústrias. Os incidentes de Setembro de 1999, em Timor Leste, agora conhecido por Timor Loro Sae, não só marcaram uma nova era para esta nação como criaram, igualmente, um cenário diferente para a indústria do café. Este cenário, porém, é marcado por numerosas constrições que tornam difícil o desenvolvimento natural desta actividade.
A natureza da indústria do café em Timor Loro Sae é diferente de todas as outras no resto do mundo.
Em Timor, a produção de café não é realmente uma "actividade agrícola", mas é caracterizada, simplesmente, pela colheita do café. As pessoas envolvidas neste processo não cultivam ou plantam o café, e não se relaçionam com os princípios típicos da produção de café. Não podem ser chamados produtores de café, ou mesmo agricultores, porque o seu envolvimento com esta produção começa apenas e termina com a época da colheita. Para os meus amigos compreenderem melhor a razão porque é que estes trabalhadores não se tornaram agricultores de café, é necessário considerarmos a natureza dos acontecimentos envolvidos neste cenário da história do café em Timor.
A possessão de terras de cultivo tem sido um constante debate. Primeiro, os Portugueses estabeleceram-se em Timor e iniciaram o desenvolvimento da indústria. Depois, os Indonésios tomaram possessão dos campos de cultivo e o governo tornou-se uma entidade muito importante na sua regulação. Os anteriores agricultores Portugueses tornaram-se então guardiões dos campos de café, derivando a sua fonte de recursos monetários da colheita desse café. A declaração da independência de Timor Leste da Indonésia resultou numa estagnação total do país, neste sector da indústria do café. A furiosa violência desencadeada nessa altura, e a forçado abandono e refúgio do país, acrescentaram uma nova e complicada dimensão á questão do domínio de terras e direitos de propriedade.
Para as pessoas envolvidas na actividade do café, a sua única preocupação reside na possibilidade de poder fazer a colheita da produção. O cultivo da terra é um conceito não existente. As árvores de café que foram plantadas há 80 anos atrás, tornaram-se a abóbada primária da floresta onde uma segunda geração de árvores cresce á sua sombra, sendo esta germinação secundária denominada por "café".
A indústria do café não se desenvolveu muito porque não existe uma força para a desenvolver. Não houve um crescimento atribuído a um aumento de produção ou colheita, ou a novas plantações de café, ou mesmo uma melhoria nas práticas de plantação. A total produção de café, presentemente, comparada com as produções dos anos 50, foi significantemente reduzida de 600 para 100 quilos de drupas por héctare!
Timor Loro Sae tem de competir no mercado internacional. O sucesso da divulgação de Timor como uma fonte primária de café de origem está dependente de um investimento agressivo do sector privado e na organização estrutural da indústria. Os cafés de Timor têm um grande potencial, e existem características ùnicas que diferenciam, claramente, estes cafés de outros produzidos no resto do mundo.
A produção de café orgânico em Timor Leste é uma condição assegurada na indústria do café, por não haver outra forma de produção. Esta é uma condição ùnica que só raramente pode ser encontrada noutros países produtores de café. As culturas orgânicas são presentes devido á ausência de involvimento agrícola em qualquer das práticas culturais, típicas de uma verdadeira actividade agrícola de plantações de café. Porém, as baixas produções de café não têm a ver com as condições orgânicas, mas sim com a falta de administração agrícola.
Com uma administração adequada, no entanto, estas produções orgânicas podem ser bem sucedidas com a actividade do café, e produzir maiores colheitas com drupas de excelente qualidade.
As plantações de café do tipo Arábica, em Timor Leste, foram estabelecidas há 80 anos. Estas plantas foram literalmente abandonadas e, hoje, crescem selvagens. A falta de vigor destas plantas, associada com a idade, é evidente. Os topos das árvores cresceram ao ponto de tornar a colheita muito difícil, e por vezes mesmo impossível. As árvores de sombra cresceram demais e não deixam penetrar luz suficiente, o que reduz a fotossíntese das palntas, resultando numa drástica redução das colheitas.
Não existe produtores ou agricultores de café neste cenário. Apenas pessoas que colhem as drupas, sem conhecimento algum acerca da produção de café.
A colheita do café em Timor leste é um processo em que não existe, ou é aplicado qualquer treino ou matriz de qualidade. A maturação do café, por exemplo, é um termo que tem um significado diferente para cada um dos 44,633 indivíduos que participam na colheita do café!…
Drupas verdes são misturadas com drupas maduras: para estas pessoas, café é café. A colheita de drupas verdes diminuem a quantidade de café que estas pessoas podiam colher, uma vez que estas sementes ainda não completaram o seu crescimento fisiológico, apresentando menos volume e peso.
Também é típico observar a colheita de drupas maduras demais. Isto indica que a colheita não foi feita tão regularmente como deveria ter sido, talvez pela falta de existência de trabalhadores. Drupas secas que caem no chão, são igualmente apanhadas e misturadas com o resto.
A combinação destas pobres práticas de colheita reduzem potencialmente a qualidade deste café, excelente por natureza, de outra forma.
De forma a modificar esta situação, existem uma série de prioridades e regras a ser adoptadas, assim como o desenvolvimento de uma estrutura industrial.
O café tem de se tornar uma prioridade nacional. O papel do governo deverá ser de promoção, e não de regulação. O governo deverá criar um sistema de proteção para os produtores, de forma a minimizar os riscos envolvidos na produção de café. Estes riscos , incontroláveis, têm haver com o clima. Uma das formas do governo participar nessa promoção deverá ser a de criar instrumentos de treino e negociação, e ambientes propícios de investimento. Todo este processo é longo, e não existe tempo a perder. Se o governo de Timor Loro Sae não investir nestas iniciativas, sem demora, as consequências para a economia desta nação são fáceis de adivinhar!…
Quem diria que uma simples chávena de café tinha assim tanta determinação no futuro de uma nação!…Ora toma!…
A partir de agora, quando o amigo for beber um cafézinho, ou comprar o grão para o fazer em casa, não se esqueça da importância do seu cafézinho na estrutura económica e social global!…
Pronto, já está, descarreguei uma série de rúbricas acerca do café, e tenho a sensação de que só toquei ao de leve no assunto. O meu envolvimento, a nível profissional, nesta àrea, iniciou-se há cerca de 8 anos atrás, derivando de um interesse curioso em descobrir o que realmente se passava na indústria do café, da àrvore até á nossa chávena. Nesta situação, não foi a curiosidade que matou o gato, mas foi o gato que matou a curiosidade!
Pé ante pé, envolvi-me com a importação e torrefação de café, investiguei a situação, promovi sempre os conceitos de uma justiça económica e social, a nível global, estou actualmente muito envolvido com a Organização Internacional do Comércio Justo, ajudando a promover esses conceitos, e tenho participado em numerosas actividades de organização de cooperativas cafeteiras e na promoção de café orgânico, na zona do Pacífico, denominadamente na Papua Nova Guiné e em Timor. O comércio Justo, no Canadá e nos Estados Unidos, cresceu, uma vez mais, pela curiosidade desinteressada do que se passa na Europa. Este conceito foi estabelecido há mais de 20 anos em países Europeus desenvolvidos, tais como a Alemanha, a Holanda, logo seguidos da Bélgica (onde o próprio Parlamento consome apenas café derivado de cooperativas protegidas pelas leis do Comércio Justo!), a Suíça, a Finlândia e a Nóruegua.
Nos passados dois anos, iniciou-se uma frente de divulgação e promoção do Comércio Justo nos países da Europa do Sul, nomeadamente, a Itália, Espanha, e Portugal. A organização não-governamental de desenvolvimento, promotora desta iniciativa, em Portugal, foi a CIDAC, Centro de Investigação e Desenvolvimento Amílcar Cabral, e foi com eles que eu tive o prazer de trabalhar na promoção e desenvolvimento do projecto, conhecido pelo Projecto Pangea, que culminou com a visita do Veleiro Finlandês do Comércio Justo em Lisboa, o "Estelle". Durante a permanência deste veleiro em Lisboa, no Parque das Nações, a assiduidade pública não foi grande, mas fez algum barulho para plantar a semente em terras lusitanas. Neste momento, existe uma loja do Comércio Justo em Amarante, e fala-se de outras a abrir em Lisboa e no Porto!…Devagarinho, sem dúvida, mas que estamos a desenvolver, estamos!…
Neste momento, tenho o orgulho de poder lidar directamente com cooperativas democráticas de produção de café, protegidas pelos critérios internacionais do Comércio Justo, em cerca de 12 países, nomeadamente, o México, Guatemala, Colômbia, Nicarágua, Perú, Brazil, Bolívia, Costa Rica, Uganda, Papua Nova Guiné, Timor Loro Sae, e Etiópia.
E eu, que refilava a semana passada por causa do frio, eu, que passo o ano a viagar por terras de café, infelizmente pobres, mas sempre quentes!…
Vou parar aqui mesmo, que o sol bate na janela, aquece-me as costas, e é uma altura óptima para ir beber uma bica!…
Acabamos aqui a história do café, contada por um Sultão, que tão graciosamente visitou estas nossas reais cozinhas, e que deixou, como recordação, umas ricas receitas provenientes do Norte da Índia e do Paquistão, e que em breve deixaremos conhecer, depois das devidas provas feitas nas nossas mesas!...Antes disso, faremos ainda cumprir a promessa de partilhar algumas das nossas melhores receitas de café, e com café!...
Beijinhos e Abraços destas nossas cozinhas reais!
CBC

Monday, February 27, 2006

A História do Café, contada por um antigo Sultão... (5ª Parte de 6)
(Estes artigos foram originalmente publicados numa coluna do jornal Semanário, em Toronto, Ontário, nas Terras Frias do Canadá, pelo Conde de Burriés de Cima, graças ao gracioso convite do Visconde de Montanelas)
Hoje, não começei a escrever enquanto não acabei de saborear, até á última gota, uma chávena de café que, pela sua raridade e história, é digna de toda a atenção e respeito. Falo do café conhecido por "India Monsoon Malabar". A história deste café é fascinante, as quantidades são bastante limitadas, e só aparece nos nossos mercados de especialidade esporádicamente. Há mais de 150 anos que a Índia tem produzido e exportado cafés de excelente qualidade. A maior parte do café da Índia é produzido nas encostas das montanhas da região sul, em elevações entre 3,000 e 6,000 pés acima do nível do mar. As regiões mais importantes de produção são Karnataka (49%), Kerala (30%) e Tamil Nadu (13%).
Antes da construção e utilização da Barragem de Assuão, o café proveniente da Índia era transportado para a Europa pelas rotas das caravanas do café, atravessando a longa distância por terra, em camelos, primeiro, e mais tarde em transportes motorizados. A época da colheita do café, coincidía com o início da estação dos ventos, mais conhecidos pelos ventos Monsoon. O café, pouco protegido, era sujeito a estas duras condições climatéricas de ventos constantes e humidade. As rotas eram longas e demoradas, e o café era significantemente alterado por isso. No entanto, não existia outro ponto de referência em relação á qualidade deste café, e esta era consistente, dadas as condições de transporte, apresentando uma cor de amarelo-pálido, com uma percentagem de humidade muito reduzida devido aos fortes ventos de Monsoon que secavam rapidamente o grão de café, tornando-o igualmente muito leve. Quando a Barragem de Assuão começou a ser utilizada, e o transporte do café da Índia começou então a ser feito por barco, a entrega de café era muito mais rápida, uma vez que o tempo de transporte foi significantemente reduzido. Porém, apareceu um problema, o café não apresentava as mesmas qualidades anteriormente reconhecidas. Depois de várias tentativas para esclarecer os resultados, foi determinado que era a exposição deste café aos ventos de Monsoon que lhe atribuíam as qualidades tão apreciadas que este café apresentava! Uma vez que o transporte deste café, por barco, eleminava esse processo, e o transporte por caravana era demorado e dispendioso, havia de se arranjar uma outra solução para resolver o problema. Essa solução foi criada, tão simples como a história do famoso Ovo de Colombo!…Actualmente, depois de ser apanhado, seco e debulhado, este café é ensacado, e empilhado ao ar livre durante o periodo dos ventos de Monsoon sendo exposto ás condições climatéricas desta estação durante o mesmo periodo de tempo, que são 3 meses. Só depois deste periodo é que estes sacos de café são transportados por barco para os seus destinos. Deste modo, o café passa exactament pelo mesmo processo que o tornou tão apreciado e conhecido. Este dedicado método é utilizado apenas para uma quantidade reduzida de café, o que o tornou uma raridade e uma especialidade, muito apreciado e procurado pelos melhores românticos, apreciadores de um café tão exótico.
A Índia produz 230,000 toneladas de café por ano, sendo 45% do tipo Arábica e 55% do tipo Robusta. Existem 123,680 quintas de café, com um total de 387 milhões de árvores produtoras, exporta 70% da sua produção de café, e consome os restantes 30%. A Índia é o oitavo maior produtor de café do mundo, e em 1998, o Canadá importou, deste país, 3,78 toneladas de café.
O mercado de exportação de café da Índia é primeiramente dedicado para a Itália, Alemanha, Os Estados Unidos, Japão e países do Médio Oriente. A sua larga produção de café do tipo Robusta é utilizada na manufactura de café instantâneo e solúvel, sendo a Rússia o maior comprador deste tipo de café.
Depois desta fascinante história do café de Malabar, quem é que não quer, senão por mais do que simple curiosidade, provar este café?…


Vamos agora dar mais um passeio. Esta coisa de viajar de um lado para o outro torna-se um hábito difícil de controlar!…Desta vez, vamos até ás terras quentes do Quénia, um dos últimos paraísos naturais da fauna Africana.
Apesar do turismo ser uma importante fonte económica do Quénia, a agricultura do café e do chá são duas economias vitais para as receitas de exportação deste país, contribuíndo assim o café para cerca de 30% das exportações deste país. O Quénia é respeitado pela sua excelente qualidade de café. Ao contrário de qualquer outro mercado de café no mundo, o comércio do café no Quénia é totalmente controlado pelo governo, e o café é vendido em leilão, todas as semanas, pela Comissão Nacional de Café do Quénia, em Nairobi, a capital deste país. O café é vendido pelo preço mais elevado de oferta, e as amostras destes lotes são enviadas apenas a exportadores autorizados, 10 dias antes do leilão. A competição para os cafés de melhor qualidade contribuem significantemente para o preço mais elevado de compra destes cafés, em relação a qualquer outro café regular.
Este país produz cerca de 200 milhões de libras de café por ano, provenientes de 203 milhões de árvores de café distribuidas por 573,426 plantações, e é o 18º maior produtor de café do mundo. O café, no Quénia, cresce a altitudes que variam entre os 1500 e os 2100 metros acíma do nível do mar. Para a próxima, como prometido é devido, terminarei esta crónica acerca do café com um artigo detalhado acerca da verdadeira e problemática situação do comércio do café em Timor, e os passos que estão a ser tomados para resolver esse grave problema. Até lá, vou pensar na forma como irei expôr o problema, e aproveito para beber mais uns cafézinhos. Espero que os meus amigos façam o mesmo!…
(continua)

Saturday, February 25, 2006

A História do Café, contada por um antigo Sultão... (4ª Parte de 6)
(Estes artigos foram originalmente publicados numa coluna do jornal Semanário, em Toronto, Ontário, nas Terras Frias do Canadá, pelo Conde de Burriés de Cima, graças ao gracioso convite do Visconde de Montanelas)

Quentinho está o café que eu estou agora a beber, que lá fora está mais frio que o meu congelador! Porque é que nunca ninguém menciona o clima desta Terra Frias nos panfletos de emigração?… Claro, o país das oportunidades, vasto e cheio de descobertas, as Cataratas do Níagara, a Políçia Montada,… e o clima?…Irra!…Eu, que sou conhecido no meu círculo de amigos pela minha falta de paciência para com o clima desta terra, quando me perguntam porque é que eu vim para aqui, geralmente respondo que foi por causa do "Red Rose Tea", por ser vendidos em pacotes grandes e baratos!…
É sempre difícil encontrar o princípio da meada destas crónicas, e depois, é igualmente difícil parar. Eu espero sinceramente que os meus dedicados leitores tenham tanto prazer a ler estas minhas divagações como eu tenho prazer em escrevê-las!
Mas voltemos ao meu cafézinho quente, e que me está a saber muito bem. Hoje, escolhi fazer uma chávena de café da Sumatra, oriúndo do Arquipélago da Indonésia, que contém um total de 13, 577 ilhas!. Este arquipélago produz alguns dos melhores cafés do mundo. O café é o segundo recurso agricultural mais importante da Indonésia, tendo cerca de 1,100,000 árvores produtoras de café. A Indonésia é o segundo maior produtor de café do tipo Robusta (90%), no mundo, e o 3º maior produtor de café do tipo Arábica (10%). Em 1998, entre Janeiro e Junho, o Canadá importou cerca de 1,908,500 kilos de café da Indonésia! A produção de café da Indonésia está sub-dividida por orígens. A ilha de Sumatra produz cerca de 65% do café da Indonésia, Java produz 17%, Sulawesi produz cerca de 7%, e Bali produz apenas 4%. Todos estes cafés provenientes destas diferentes ilhas são de uma qualidade excepcional. De uma forma geral, apenas casas de especialidade, em particular micro-torrefações, têm estes cafés disponíveis. Os melhores cafés são conhecidos pelos nomes das zonas de produção mais respeitadas, tais como Mandheling, Lintong e Aceh. Estes são os cafés, sem dúvida, mais procurados pelas suas qualidades e pelo seu inconfundível sabor.
Graças á pressão que foi exercida na Indonésia para a sua adesão e suporte ao Comércio Justo, depois da adesão de alguns produtores da Papua Nova-Guiné, e do início das conversações com Timor, a Indonésia cedeu finalmente, e, correntemente, existem já algumas cooperativas de produtores a venderem o seu café sob a proteção dos contratos internacionais do Comércio Justo. Esta é, correntemente, a melhor forma de proteger os produtores e garantir um preço justo para as cooperativas organizadas, assim como garante igualmente uma melhoria na qualidade de vida destes trabalhadores.
E já bebemos mais uma chávena de café com bom sabor a justiça social!…
Vamos agora dar um pulo até á Etiópia, que, como já sabemos, é o país responsável pela disseminação desta planta mágica. O café, na Etiópia, ainda é plantado e tratado por métodos tradicionais, envolvendo um enorme número de pessoas e uma grande força laboral. O café é o primeiro recurso monetário para cerca de 1/4 da população da Etiópia, o que equivale a cerca de 12 milhões de pessoas! Existem cerca de 331,130 quintas de agricultores independentes, 19,000 quintas estatais, e numerosos aglomerados familiares. A Etiópia exporta cerca de 1.4 milhões de sacos de café por ano, e consome 1.2 milhões de sacos, o equivalente a 1.5 quilos de café por pessoa.
As regiões de produção mais importantes são as províncias de Sidamo (Limu e Yrgacheffe), Wollega, Illubabor, Harrar, Kaffa e Gambela. A Etiópia é sétimo maior produtor de café do mundo, e em 1998 exportou cerca de 1,393,000 quilos de café para o Canadá. O café é responsável por muito mais do que 50% dos ganhos anuais dos valores da exportação deste país.
Mais um golo de café, e toca a dar mais um salto até á Guatemala, uma terra de vulcões, com muitos deles ainda activos, lembrando constantemente os seus vizinhos acerca do seu poder creatívo e destrutívo. Estes vulcões criam uma terra de plantio excelente, rica em minerais, e a maior parte das mais elevadas encostas das montanhas são cobertas de fabulosas e verdejantes plantações de café. Os jesuítas introduziram as árvores de café na Guatemala durante 1750, e as plantações de café foram estabelecidas como a maior colheita de exportação entre 1860 e 1920.
As quintas de café (fincas, em espanhol), são geralmente geridas por uma família de agricultores. Em alguns casos, as quintas maiores são o meio de subsistênçia de várias famílias. Uma quinta de 400 a 600 acres requer, típicamente, cerca de 100 a 200 trabalhadores especializados, e pode necessitar de mais 450 trabalhadores temporários para ajudar na colheita e no processamento do café, durante a época alta, que dura entre 4 a 6 meses, entre Setembro e Abril.
A Guatemala, o sexto maior produtor de café mundial, tem cerca de 33,000 quintas de café, com um total de 775 milhões de árvores produtoras, empregando um total de cerca de 25 % da população do país. Este país produz cerca de 3,812,000 sacos de 60 quilos de café por ano. As melhores zonas de produção de café, deste maravilhoso e colorido país, são Antigua, Atitlan, San Marcos e Huehuetenango. Tal como na Colombia, existe uma agência reguladora da produção e venda de café, conhecida por A.N.A.C.A.F.E., Associacion Nacional del Café.
Graças á Organização Internacional do Comércio Justo, existe um grande número de quintas já organizadas em cooperativas e a venderem o seu café sob a proteção dos preços de mercado justo.
Para a próxima, continuaremos a explorar mais alguns locais interessantes da produção de café, e, num futuro pouco distante, falaremos da questão e dos problemas de Timor em relação ao café e à sua produção. Até lá, continuaremos a beber os nossos cafézinhos, que sempre aquecem o coração e o espírito!…(continua)

Friday, February 24, 2006

A História do Café, contada por um antigo Sultão... (3ª Parte de 6)
(Estes artigos foram originalmente publicados numa coluna do jornal Semanário, em Toronto, Ontário, nas Terras Frias do Canadá, pelo Conde de Burriés de Cima, graças ao gracioso convite do Visconde de Montanelas)
Antes de mais nada, toca a fazer um cafézinho, sentar no sofá mais confortável, apertar os cintos de segurança, as costas do sofá deverão encontrar-se na posição vertical. Estamos neste momento a chegar á Colombia, o ex-segundo país maior produtor de café do mundo, depois do Brazil, e o primeiro maior fornecedor de café do Canadá, sendo o Brazil o maior produtor do mundo e o segundo fornecedor do Canadá! (Neste momento, em que estes artigos estão a ser submetidos a uma revisão, o Vietname passou a ser o segundo maior produtor de café do mundo, do tipo Robusta!)
A Colombia tem cerca de 870,000 héctares de plantações de café, e cerca de 570,000 fazendas. O tamanho médio de uma quinta de café na Colombia é de cerca de 1,5 héctares. A Colombia produz apenas café do tipo Arábica, se bem que a maior parte destas plantações sejam tratadas com adúbos e pesticidas químicos. Em 1999, o Canadá importou cerca de 26,094, 200 Kilos de café, só da Colombia. O nosso amigo Juan Valdez, na realidade, não é mau tipo, foi criado pela Federação Colombiana de Café que, graças á enorme campanha de publicidade que criou para promover o seu café no resto do mundo, criou assim um preço mais elevado para o seu café, permitindo assim um melhor nível de vida para os Cafeteiros da Colombia.
Esta Federação Nacional de Cafeteiros(FNC) é uma cooperativa nacional, inteiramente controlada por produtores membros, elegidos democráticamente. Esta cooperativa foi fundada em 1927, inclui actualmente cerca de 300,000 membros cafeteiros, que são pagos directamente pela federação.
Esta foi a primeira cooperativa fundada por cafeteiros independentes de forma a tentarem proteger-se contra a exploração selvagem do comércio do café, e talvez tenha sido o gatinhar das novas frentes democréticas que tentam, pelo mundo for a, melhorar as condições de vida destes trabalhadores -escravos da indústria do café, tais como o Comércio Justo, o Altromercato, Max Havelaar, Transfair e Fair Trade.

Na verdade, quer o café da Colombia ou do Brazil, não podem sequer ser considerados entre os 10 melhores cafés do mundo! Eu sei, os meus amigos, nesta altura já tiraram o cinto de segurança da sua poltrona, e provavelmente estão um pouco chocado com a revelação. Não desanimem, os melhores cafés do mundo provêm das zonas do Arquipélago Indonésio, sendo os melhores cafés do mundo o de Timor, e deste local tornaremos a falar porque o café deste lugar está em sérios sarilhos, da Papua Nova Guiné, de Java, da Sumatra, de Sulawesi, antigamente conhecida pela Ilha de Celebes, e daí teríamos de viajar até ao continente Africano. Mas não nos vamos já perder em questões de qualidade e voltemos á Colombia, o terceiro maior produtor de café do mundo, como dizíamos.

A FNC garante sempre a compra da produção inteira do soçio, e paga directamente ao Cafeteiro. Este, porém, pode escolher vender a sua colheita independentemente, a qualquer exportador privado.

Apenas numa nota de rodapé, penso que chegou a altura de revelar aos meus amigos que custa uma média de 120 escudos, ou 0.6 Euros a um cafeteiro para produzir 1 quilo de café verde. De uma maneira geral, o preço oferecido a esse mesmo cafeteiro pelo seu quilo de café é cerca de 15 a 25 escudos, ou 7 cêntimos de Euro! Como os meus amigos devem calcular, os cafeteiros não se encontram muito satisfeitos. Apenas com a proteção do Comércio Justo, o café terá de ser pago ao cafeteiro a cerca de 3.60 USD por quilo! A corrente de intermediários existentes entre a plantação de café e a loja onde compramos o café, é enorme. De um modo geral temos o cafeteiro, na plantação, que de uma maneira geral é o dono da terra e aí trabalha. Também existem as plantações que empregam trabalho manual das aldeias vizinhas. Neste caso, os trabalhadores são quase sempre mal pagos, e o dono da fazenda tem a estação de tratamento da drupa na própria plantação e vende directamente aos importadores, ou, no melhor dos casos, exporta directamente. Nesta situação, os donos destas fazendas, também conhecidos por exploradores, ou coiotes, ganham cerca de 200% de lucro na transação.

No primeiro caso, onde o cafeteiro tem apenas uma pequena parcela de terra, e aí a plantação é alternada, o que significa que entre as plantas do café também crescem alguns vegetais, cana de açucar, passeiam algumas galinhas e a cabrita, neste caso, esse cafeteiro depende dos vizinhos para juntarem o café suficiente para depois o venderem ao coiote que espera ansiosamente pelo trabalho alheio. Até há pouco tempo, era assim que o comércio se tratava.
Daí, o coiote vende o café ao exportador, e quando chega ao lado de cá dos arames, os distribuidores cobram o dobro, uma vez mais, pelo café verde. As torrefações, torram e enpacotam, redistribuem para o retalho, e cobram outra vez o dobro. O retalhista, por sua vez, lá acrescenta uns Euros á coisa, e o meu amigo compra o café a 1.7 Euros o quilo! Eu sei, eu sei, que pode ir ao supermercado comprar uma latinha do café, já moído, e não queria saber o que lá está dentro, senão eu digo-lhe!, e paga só 4 dólares, mas para o meu amigo pagar esse preço, imagine a quanto foi pago o cafeteiro que passou 14 horas a trabalhar para esse quilo de café! Mas continue a saborear o seu cafézinho, afinal eu só estou a remexer um bocadinho na estrutúra sócio-económica do comércio do café, e estou a convidá-lo a participar um pouco mais na nova cadeia que se forma de modo a ajudar os mais desprotegídos a serem mais bem tratados. O processo nem é difícil! Basta começar a perguntar no local onde compra, ou bebe o seu café, se eles têm café do comércio justo, ou Fair Trade, e o amigo não precisa de ser enganado. O café que é protegido pelas leis internacionais do comércio justo têm de ter este símbolo, e depois disso, se o amigo é cibernauta, pode ir á internet e verificar as localidades de quem vende café que reflecte prácticas democráticas do comércio justo. No Canadá, por exemplo, isto pode ser verificado na seguinte direcção da Internet:
www.transfair.ca

Acaba aqui o rodapé e voltamos á Colombia.
Este país exporta dois tipos principais de café, Colombia Supremo e Colombia Excelso. O primeiro apresenta um grão maior com uma qualidade igualmente superior, o segundo, sendo o grão um pouco mais pequeno, não fica muito atrás em termos de qualidade. Apenas em 2001, começou a Colombia a exportar algum café orgânico que está a ter uma boa aceitação nos meios ainda um pouco fechados das micro-torrefações, sendo um café de especialidade, e honrando os príncipios do comércio justo.

As organizações do Comércio Justo, iniciadas na Europa, na Holanda e na Alemanha, há cerca de 20 anos atrás, apostaram primeiro em torrefações independestes para trazerem estes cafés, directamente dos produtores e cafeteiros, eliminando assim todos os intermediários, e pagando um preço justo a que produz. Desta forma, foi criada uma nova cadeia onde os cafeteiros, que estavam continuamente ameaçados com os baixos preços de oferta, tiveram a oportunidade de vender o seu café directamente a quem o iría torrar e vender directamente. O preço de retalho não seria alterado, mas o produtor ganharia o suficiente para melhorar substancialmente a sua qualidade de vida, e ganhar um incentívo para promover o conceito a outros cafeteiros. Deste modo, foram criadas leis internacionais de regulação do comércio de café no mercado justo e equitativo, e o processo correu tão bem que, actualmente, já existem mais de 1000 cooperativas de café no mundo, a beneficiar deste conceito, e os números continuam a crescer! Devido á produção reduzuda de cada cafeteiro independente, foi necessário estipular uma série de critérios para estes cafeteiros poderem beneficiar da organização, e ao mesmo tempo poderem entregar um produto de qualidade de uma forma consistente. Assim, estes cafeteiros independentes, normalmente de uma localidade específica, organizam uma cooperativa, e trabalham juntos sob o mesmo critério, podendo desta maneira atingir quotas mais elevadas de produção de forma a poderem entrar no mercado com uma quantidade razoável de um produto de qualidade. Esta cooperativa vende o café a um torrador, directamente, que geralmente estabelece as condições para a importação do café, e este, paga directamente a essa cooperativa o preço estipulado pelo Comércio Justo, sempre acima dos valores convencionais.
Nesta altura, o Cafeteiro ganha cerca de 4 ou 5 vezes mais do que ganharia de outra forma, não existem intermediários, e o café chega ás nossas mão com a leveza de uma consciência de justiça económica e social global!
Quem diria que uma simples chávena de café teria tanto peso e impacto na economia global?… (continua)

Thursday, February 23, 2006

A História do Café, contada por um antigo Sultão... (2ª Parte de 6)
(Estes artigos foram originalmente publicados numa coluna do jornal Semanário, em Toronto, Ontário, nas Terras Frias do Canadá, pelo Conde de Burriés de Cima, graças ao gracioso convite do Visconde de Montanelas)

No artigo anterior explorámos um pouco das origens e da importância do café, a nível global. Desta vez, enquanto aprecio uma chávena de um bom café da Nova Guiné á medida que vou continuando a escrever esta crónica, vou levá-los a uma outra viagem, desta vez ao complicado processo do tratamento e cultivo do café, do arbusto até ás nossas chávenas.

Já sabemos que o café, originário da Àfrica, tendo sido primeiramente cultivado no Iémen, é nos nossos dias cultivado em cerca de 50 países em torno da cintura equatorial do globo, entre os Trópicos de Cancer e de Capricórnio. Este arbusto, de folha persistente, existe no estado selvagem em mais de 60 variedades da família do café, podendo atingir 6 metros de altura!
Porém, apenas duas variedades do café são utilizáveis para fins comerciais e de consumo. Essas variedades são chamadas Arábica (Coffea Arábica), e Robusta (Coffea Robusta). Uma planta do café, cultivada, pode produzir cerca de 700 gramas de café torrado, por ano, durante 25 anos, aproximadamente.

Esta delicada planta é muito susceptível ao frio, à geada, secas, luz solar e mudanças súbitas de clima, e todos estes factores estão fora do nosso alcançe de controle, estando este cultivo dependente simplesmente de condições climatéricas propícias.
O café de melhor qualidade provém de plantações localizadas nas encostas das regiões montanhosas mais elevadas. De uma maneira geral, estas plantas de café crescem á sombra, sob o abrigo das florestas tropicais onde as condições climatéricas são mais estáveis e estas plantas se encontram mais abrigadas. Geralmente, estas práticas de plantações á sombra são igualmente acompanhadas de uma ausência de utilização de componentes químicos, tais como fertilizantes, adúbos sintéticos ou pesticidas, sustentando um sistema ecológico não prejudicial, e um balanço natural do ambiente.

Mesmo assim, e tendo em conta todos os benefícios deste tipo de plantações de café orgânico, o elevado risco de geadas e de variações de temperatura nas montanhas é responsável pelo preço mais alto no mercado destes cafés de melhor qualidade, porém, um preço digno de se pagar, se tivermos em conta as condições de tratamento a que as plantações ao sol são expostas!
Os tipos de plantações de café usado para fins comerciais, em geral grandes fazendas, é feito pela exposição das plantas de café ao sol, durante todo o dia. Este tipo de plantações produz quantidades de café muito mais elevadas do que as plantações á sombra, nas encostas montanhosas.
Neste caso, estas plantações são intensamente tratadas com pesticidas e fertilizantes químicos, e de uma maneira geral são criadas a partir de híbridos que resistem melhor ás condições climatéricas. Este tipo de café é de uma qualidade muito inferior, mas é produzido desta forma para poder responder á necessidade de consumo mundial, e é assim produzido em enormes quantidades. Ao mesmo tempo, este tipo de plantação, geralmente feita a baixas altitudes, em vales e vastas planícies, permite um acesso mais fácil ás estações de tratamento da drupa. Porém, tem sido provado que produz consequênçias gravíssimas para o ambiente e para a saúde dos trabalhadores que têm a tarefa de recolher as drupas á medida que estas amadurecem. Este é um processo manual que exige muitas horas de trabalho e exposição aos produtos químicos a que estas plantações são sujeitas. As drupas são verdes, e tornam-se vermelhas á medida que amadurecem, sendo recolhidas apenas nesse estado de amadurecimento. Depois de colhidas, as drupas são secas, lavadas, polidas, separadas por tamanho e qualidade, e finalmente armazenadas em sacos de sarrão que podem conter entre 60 e 70 kilos de sementes de café verde, pronto a ser torrado.

Os cafés de melhor qualidade são o tipo Arábica, provenientes das elevações mais altas, em plantações á sombra, orgânicas, livres de qualquer tipo de interferênçia química quer de adúbos ou pesticidas. Este tipo de plante produz drupas que são muito apreciadas pelo seu aroma, acidez e um sabor delicado. Cresce em temperaturas que variam entre os 20 e os 24 graus centígrados e é cultivada em altítudes por vezes superiores a 2000 metros. Este tipo de café é geralmente encontrado em casas de especialidade, ou micro-torrefações, e o preço, de uma forma geral, reflecte a qualidade da origem.

O outro tipo de café, Robusta, cresce em altitudes inferiores a 1000 metros, e mesmo em regiões muito húmidas. Esta planta, como já mençionámos, é mais prolífica do que o tipo Arábica, e produz o dobro de drupas em relação á primeira. Este tipo de café é utilizado primariamente por grandes companhias, e encontra-se disponível em todo o lado, com o rótulo das grandes companhias comerciais mais conhecidas e vulgares.
O café tipo Robusta, além de ter sido tratado com químicos pesticidas, contém também uma percentagem mais elevada de cafeína do que o tipo Arábica, sendo este valor superior até cerca de 30 ou 40 por cento, e apresenta igualmente um sabor forte e amargo. No melhor dos casos, pode ser misturado , em pequenas quantidades, com o tipo Arábica, para acentuar o sabor da mistura, e dar-lhe um pouco mais de cafeína.
Na Europa, o tipo de café Robusta é o mais utilizado, se bem que nos últimos cinco anos exista já um grupo de consumidores mais interessados em café orgânico de uma qualidade superior, mais interessados no sabor do que na cafeína. De uma forma geral, os cafés de tipo Arábica são vendidos com o nome do país de origem, porto de embarque, e mesmo local de produção. Por exemplo, Costa Rica Tarrazu, indicando o país e local de origem.

Na América do Norte, o interesse por cafés de qualidade superior cresceu mais rapidamente, e nesta altura, a maior parte do café que se consome em casas de especialidade, e mesmo em alguns supermercados, é já mais ou menos garantido ser café Arábica, ou mesmo um lote de mistura contendo uma boa percentagem de café Arábica. Geralmente, o rótulo indicará se o café é de tipo Arábica, ou não. Se o rótulo não mencionar o tipo, é quase guarantido ser do tipo Robusta! Neste caso, o rótulo limita-se a indicar o tipo de moagem ou o nome do lote.
Vamos agora dar um passeio e descobrir a importância do café em alguns países.
O Brazil é o maior produtor de café do mundo, e o segundo maior consumidor, depois dos Estados Unidos! O Brazil consome cerca de 1.5 biliões de libras de café por ano. Existem cerca de 230,000 fazendas de café, que empregam um total de 5 milhões de trabalhadores que vivem deste comércio. O Brazil produz entre 20 e 40 milhões de sacos de café por ano, e consome cerca de 11 milhões destes sacos. 85% da produção é do tipo Arábica, e 15 % do tipo Robusta. A indústria do café cria cerca de 10% do Produto Nacional Bruto da Nação Brasileira!

Nos próximos artigos, visitaremos outros locais de importância no comércio do café.

Este comércio tem sido cuidadosamente explorado, e mesmo mantido sob algum segredo e proteção, apenas para o benefício de alguns. Será importante reconhecer que a maioria dos países produtores de café são países de Terceiro Mundo, ou em vias de desenvolvimento, e os trabalhadores dessa indústria são geralmente muito pobres. Tendo em conta que este é o segundo produto mais procurado no mundo, alguém está a beneficiar muito deste comércio, e é òbvio que não é o produtor, e quem trabalha a terra!…Mas onde é que eu já vi isto?…Bem, este é um assunto que eu prometo tornar a explorar, e falaremos então de novas prácticas de comércio justo, ou justiça económica social, que estão já a ser aplicadas em alguns locais, a nível global, e que têm o objectivo de criar melhores condições de vida para estes trabalhadores do comércio do café, e igualmente no comércio do chá, do açúcar, do cacau, das bananas e do mel!
(continua)

Tuesday, February 21, 2006

A História do Café, contada por um antigo Sultão... (1ª Parte de 6)
(Estes artigos foram originalmente publicados numa coluna do jornal Semanário, em Toronto, Ontário, nas Terras Frias do Canadá, pelo Conde de Burriés de Cima, graças ao gracioso convite do Visconde de Montanelas)

Todos sabemos que o Petróleo é a primeira comodidade mundial, o produto mais procurado. Também sabemos que é esse mesmo produto, e todos os seus derivados, a razão de tantas intrigas e desacatos no mundo, desde problemas económicos a conflítos políticos de interesse, tudo isto por causa de simples petróleo, rocha sedimentar, líquida, que se encontra, frequentemente, em mananciais, sendo essas fontes naturais mais conhecidas por jazidas, ou depósitos de petróleo, e que, depois de refinado, se apresenta em variações tão cómodas como a gasolina, o òleo de aquecimento, e por aí fora, até aos ingredientes de alguns produtos alimentares dos quais não iremos falar!… Porém, não foi por causa do petróleo que eu começei a escrever estas linhas. Em vez disso, vou falar acerca da segunda maior comodidade do mundo, um outro produto igualmente muito procurado e utilizado e que tem um papel tão importante nas nossas vidas. Neste momento, enquanto estou a escrever esta crónica, eu próprio me resigno a reconhecer que estou a utilizar este produto de que falo, esta tal segunda maior comodidade do mundo, e acredito que muitos dos caros leitores que estão a ter a delicadeza de a ler, e falo da crónica, estão provavelmente, e igualmente a saborear um pouco deste produto. Falo do café!…
Pois é, amigos, o café, depois do petróleo, é a segunda comodidade mundial, representando um papel importantíssimo não só nas manhãs e nos dias de cada um, mas igualmente na estrutura económica do mundo. O meu objectivo, ao escrever este artigo, é levar um pouco da história do café e suas consequênçias à caneca de cada um. Esta não é uma história fácil de contar, nem de explicar, por isso peço um pouco da vossa paciência para viajarem comigo no espaço e no tempo.


Não existe uma data concreta acerca do início da utilização do café, como bebida. Porém, existem alguns factos e histórias, mais ou menos concretas, que foram adoptadas para reconstruír a história desta poção mágica.

A história do café tem iníçio em terras do Norte de Àfrica, nos arredores do extremo sul da Península Arábica, em países hoje conhecidos como o Yémen e a Etiópia. Será, no entanto, importante reconhecer que o café será originalmente proveniente do Yémen, tendo sido aí primeiramente utilizado, e introduzido mais tarde na Etiópia, atravessando assim o Mar Vermelho. Dada a proximidade das duas regiões e tendo em conta as esporádicas trocas comerciais entre estes dois reinos desde cerca do século VII A.C., não existe uma necessidade absoluta de algum acontecimento histórico importante para explicar o acontecimento. Porém, a invasão da Etiópia, e a consequente ocupação do Yémen, e do resto do sul da Arábia, em 525 A.C., pode dar mais alguma luz ao caso. A Etiópia governou o Yémen durante cerca de 50 anos, o tempo suficiente para a existência de trocas de informação culturais, tal como as propriedades estimulantes de uma pequena baga vermelha (drupa) e as suas aplicações e prácticas de agricultura!… Segundo reza a história, um jovem guardador de ovelhas, conhecido pelo nome de Kaldi, foi avistado por um monge de um mosteiro do Yémen em alegre atitude de euforia, saltando e dançando juntamente com as cabras, depois de estes, o guardador de cabras e elas, terem ingerido algumas das bagas vermelhas (drupas), oríundas de um pequeno arbusto de folhas verde escuras. O monge, decidido a dar uma atenção mais pormenorizada a essas bagas vermelhas, decidiu recolher algumas, e iniciar algumas experiências. Talvez a mesma euforia que transpirava do jovem Kaldi pudesse ser transferida para o mosteiro, e os monges talvez pudessem dar mais atenção aos sermões, e mostrar um pouco mais de fervor em vez de adormecerem descaradamente durante as missas!…
Uma das experiências aparentemente conduzidas foi a de ferver as sementes em àgua. Se bem que a poção não tivesse um sabor particularmente agradável, foi descrita como sendo uma bebida estimulante e demonstrou alguns efeitos positivos no decorrer dos sermões uma vez que os monges se mantinham bem acordados para as cerimónias! Entretanto, por algum acaso de circunstâncias, decerto que alguém decidiu deitar para uma fogueira as sementes do famoso arbusto, causando dessa forma o aquecimento pelo fogo das drupas, e descobrindo-se assim o processo da torrefação do café. O agradável cheiro do café torrado não deve ter passado despercebido, e daí a provar as mesmas sementes, agora torradas, e fervê-las de novo, não deve ter sido um processo muito longo, vindo-se a criar assim a famosa bebida mágica que nós tão bem conhecemos pelo nome de café, bica, cimbalino, italiana, e por aí fora com todas as actuais variações, com ou sem leite, ou mesmo com um cheirinho!…

A questão seguinte é tentar traçar uma linha entre a descoberta do café, e a sua utilização, pelos povos do Yémen e da Etiópia, e a forma como o café chegou até nós, povos de brandos costumes, na Europa, e mais tarde na América do Norte, tendo em conta que, hoje em dia, os Estados Unidos são os maiores importadores de café do mundo, e os maiores consumidores também, apesar da ilusão de que a Europa seria a merecedora de tal título!

De facto,os primeiros relatórios, dignos de referência e justa prova, acerca da utilização do café, e que chegaram oficialmente ao nosso conhecimento, são provenientes de antigos tratados Àrabes que datam de cerca do século IX da nossa era. Estes são os documentos que fazem alusão á existência de uma bebida, obtida através da fervura de drupas verdes, produzindo uma beberagem estimulante, semelhante ao chá. O processo que consiste na torrefação dos grãos verdes de café, e que causam a libertação do seu aroma, foi um segredo cautelosamente guardado pelos Àrabes, até á Idade Média, que beneficiaram excelentemente desse monopólio. Revelado o segredo, por uma princesa Àrabe ao seu marido, em Constantinopla, o café tornou-se, em muito pouco tempo, o objecto de um comércio intensivo de troca com a Europa.

O Embaixador da República de Veneza relatou ao senado que os Turcos tinham o hábito de beber uma poção negra, o mais quente possível. Essa poção era extraída de uma planta conhecida por "Cavee", e que tinha a curiosa propriedade de manter uma pessoa em absoluto estado de alerta. Esta bebida milagrosa, primeiro usada na Europa, em Itália, pelos Venezianos, foi importada para França, em 1670, por um Siciliano que abriu o primeiro dos famosos Cafés de Paris.

A venda do café, originalmente promovida para combater o alcoolismo, encontrou em pouco tempo alguma resistência oferecida por tradicionalistas que viram a bebida como uma invenção diabólica dos Infiéis Árabes. Porém, quando exposto á questão acerca do café, o Papa Clemente VIII declarou que a bebida era deliciosa demais para ser abandonada aos Infiéis e promoveu o café a uma "bebida cristã"!…

O Império Holandês conseguiu transportar uma planta viva do café, do Yémen, em 1690, tendo dessa forma eliminado o monopólio Àrabe. Em 1706 os Soberanos Holandeses ofereceram plantas do café a todas as grandes cortes da altura. Luís XIV, de França, pouco impressionado com a novidade da altura, deu a planta ao Botânico Real, que foi bem sucedido no desenvolvimento e crescimento da planta nos Jardins Botânicos de Paris!

Um jovem oficial da Marinha, chamado Gabriel Mathieu de Cleu, que conhecendo as condições climatéricas das Colónias Holandesas, concluíu que o café podia ser facilmente plantado nas Colónias Francesas da América. Robou várias plantas do café que se encontravam cuidadosamente guardadas no Jardim Botânico e levou-as, a bordo de um navio de mercadorias com destino à Martinica.
A travessia foi bastante dura, e apesar destas plantas preciosas terem sobrevivido ao saque de pirataria, foram completamente encharcadas com àgua salgada durante uma violenta tempestade, e sofreram logo depois uma falta de água. Grabriel de Cleu teve de partilhar a sua ração diária de àgua de forma a poder fazer chegar a sua preciosa mercadoria ao porto. Apesar de toas as peripécias, as plantas mostraram-se particularmente fortes e resistentes a todos os maltratos a que foram sujeitas, e dentro de pouco tempo cresciam em grande quantidade nas Ìndias do Oeste, e foram mesmo encontradas nas Colónias Francesas e Holandesas, mais a sul, onde a venda de rebentos de grãos de café era punída com a pena de morte!

Em 1727, o Brazil estava preparado para pagar qualquer preço para obter uma destas plantas. O fim do conflito territorial entre as Guíanas Francesas e Holandesas era eminente, e o Brazil foi escolhido para arbitrar e mediar as negociações. Foi esta embaixada brazileira que teve a oportunidade de procurar obter uma dessas plantas sem ter de pagar monetáriamente por isso. Na embaixada Brazileira encontrava-se um representante militar, o Tenente-Coronel Francisco de Melo Palheta. Apesar da sua ignorânçia acerca do café, era um bom patriota e um excelente homem de negóçios, além disso, o seu charme para com as damas deu-lhe igualmente bastante reputação. Segundo a história, diz-se que ele não só cumpriu a sua missão, com êxito, mas que se tornou igualmente um dedicado companheiro da esposa do Governador Françês!…
Em agradecimento dos seus prestigiados serviços, o Governador ofereceu um banquete em sua honra e, durante as festividades, a esposa do Governador ofereceu-lhe um ramo de flores onde se encontravam, escondidas, as preciosas sementes frescas de café e alguns rebentos.

Hoje em dia, o Brazil, é o maior produtor de café do mundo. Existem mais de 25 milhões de acres de café plantados em cerca de 50 países, ao longo da faixa tropical do globo, e é a fonte de sustento para cerca de 20 milhões de pessoas, sendo a principal fonte de exportação para muitos países na África e na América do Sul. É o segundo produto mais exportado no mundo, a seguir ao petróleo! (Continua…)

Thursday, February 16, 2006

Mais vale tarde que nunca...



Pedimos desculpas pelo tópico atrasado, mas devido à lentidão deste nosso coche, que pelos vistos foi puxado por mulas em vez dos habituais cavalos, nos obrigou a chegar aqui um dia depois do acontecimento.

Falamos do São Valentino, ou Valentim, para alguns outros. Se bem que o dito não seja assim muito celebrado fora dos burgos Ingleses, e se o for, é por causa desta nossa nova moda, tão patética, do comercialismo internacional!...
Seja como for, o Dia dos Namorados, ou de São Valentim, celebrado no dia 14 de Fevereiro, onde tanta gente troca flores, bombons, rebuçadinhos e outras mariquices, em celebração deste Santinho, é mais uma festividade que os sacanas dos cristãos camuflaram com um pobre santo mártir, simplesmente para disfarçar uma tradição pagã, muito mais antiga, que já acontecia antes do pobre cristo ser sequer um brilho nos olhos do José e da Mariazinha!...

Pois, pois, que isto não é para ficar sem ser dito!...O dia de São Valentim dos nossos dias, ainda apresenta alguns vestígios da tradição de Roma Antiga, mas predominantemente da influência cristã. Segundo a lenda cristã, existem pelo menos três mártires diferentes com o nome de Valentim, ou Valentinus. Aparentemente, conta a lenda que o Valentinus era um padre que serviu em Roma durante o Séc III, quando o Imperador Cláudio II decidiu que os homens solteiros eram melhores soldados do que os homens casados e com família, e decidiu tornar ilegal o casamento de homens novos - os seus futuros soldados. o padre Valentinus, aprecebendo-se da injustiça do decreto, desafiou o Cláudio e continuou a celebrar casamentos de jovens apaixonados, em segredo. É òbvio que assim que o Cláudio descobriu o que se estava a passar, mandou logo servir o Valentinus aos leões, com molho de almôndegas!...Reza a história que os leões gostaram muito.
Porém, antes de ser servido aos leões, existem rumores que o Valentinus foi visitado pela filha do carcereiro, apaixonou-se logo pela rapariga, e antes de ser servido aos leões ainda lhe escreveu uma carta de amor assinada, 'Do teu Valentinus', espressão essa que ainda hoje é utilizada nos cartões dedicados à pessoa amada, neste Dia dos Namorados!...Seja como for, o facto é que todas estas histórias representam o São Valentinus como uma figura heróica, simpática, e principalmente romântica. Na Idade Média, o Valentinus era um dos santos mais populares em Inglaterra e em França. No próximo parágrafo explicarei porquê!...Pronto, agora que já têm a versão cristã, vamos lá ver o que é que eles estão a tentar esconder...


...Havia um festival pagão, que coincidia com o meio de Fevereiro, conhecido pelo nome de Festival da Lupercalia.
Na Roma Antiga, o mês de Fevereiro era coincidente com o início da Primavera, e esse era um periodo de purificação. As casas eram ritualmente limpas e purificadas, sendo varridas e depois salpicadas com sal e um tipo de sementes de trigo, conhecidas por Triticum aestivum var. spelta, ou spelta. O festival da Lupercaria era uma celebração que começava a meio de Fevereiro, por volta do dia 15, e era um festejo dedicado à fertilidade e a Faunus, o deus romano da agricultura, assim como aos fundadores de Roma, Romulus e Remus.
Para inicial o festival, os membros da Luperci, uma ordem de sacerdotes romanos, juntavam-se numa gruta sagrada onde se acreditava que os fundadores de Roma, Romulus e Remus, tivessem sido criados e alimentados por uma loba, e nessa gruta, sacrificavam uma cabra, dedicada à fertilidade, e um cão, dedicado à purificação. Depois dos sacrifícios, os rapazes cortavam a pele da cabra em tiras, mergulhavam-nas no sangue do sacrifício, e levavam estas tiras para as ruas das vilas, batendo com elas, suavemente, nas mulheres e nos campos de culturas. As mulheres romanas ansiavam serem tocadas por essas tiras de pele, porque acreditavam que esse acto as tornaria mais férteis no ano vindouro!

Mais tarde, no mesmo dia da celebração, todas as raparigas novas, nas vilas, punham o seu nome numa urna. Os solteirões escolhiam depois um nome dessa urna e faziam par com a mulher escolhida durante esse ano. Muitas vezes, esses pares acabavam em casamento.

O Papa Gelasius, por volta do ano 49 da nossa era, declarou o dia 14 de Fevereiro o dia de São Valentinus. O sistema da 'Lotaria Romana' romântica foi declarado anti-cristão, e foi declarado proibido e ilegal. Mais tarde, na Idade Média, acreditava-se, em Inglaterra e na França, que o dia 14 de Fevereiro era o início da estação de procriação das aves, o que reforçou a ideia de que o Dia de São Valentim devia ser um dia dedicado ao romance.

Agora que já sabem as duas versões da história, cada um que vá para onde lhe convier melhor!

Nós, aqui nestas nossas cozinhas, não perdemos tempo com histórias, que segundo diziam já as nossas avós, os corações dos homens, e das mulheres, estão no estômago, e nós assim fizemos, conquistando os corações das nossas fiéis donzelas com bolinhos de trufas de cacau e biscoitos de baunilha cobertos de chocolate, tudo servido com moscatéis das uvas mais doces e ricas!...

Para quem gosta mesmo muito de chocolate, e não tem medo de uma sobremesa rica neste ingrediente, faça o favor de arregaçar as mangas e começa assim...

Primeiro, aquecem o forno a temperatura média, e untam uma forma média, rectangular (com cerca de 32X22 cm), com manteiga e farinha. Depois, cobrem o fundo e dois dos lados com papel de pergaminho (papel de pasteleiro), deixando uma margem de cada lado para servir de abas, e mais tarde poderem levantar o bolo mais facilmente.

Em banho-maria, derretem 200 gramas de chocolate amargo, e 85 gramas de chocolate meio amargo, ambos púros, e da melhor qualidade que conseguirem arranjar, e 250 gramas, mais duas colheres de sopa de manteiga sem sal. Atenção, quando a mistura estiver 2/3 derretida, retiram do lume e continuam a mexer até a mistura estar homogénea!

Noutro recipiente, batem 4 ovos inteiros com 600 gramas de açucar e duas colheres de chá de essência pura de baunilha, até o açucar derreter completamente.
Quando a mistura do chocolate estiver ligeiramente morna, batem juntamente com o açucar e os ovos até obterem uma massa homogénea.

Ainda noutro recipiente, misturam 65 gramas de farinha com três colheres de sopa de cacau de boa qualidade e uma pitada de sal.
Depois, em três partes, adiçionam a mistura da farinha à massa anterior, e batem bem até estar tudo bem ligado.

Deitam a maravilhosa mistura na forma untada e forrada com o papel de pasteleiro, e levam ao forno durante 35 minutos.

A massa deve ficar brilhante, e as margens podem apresentar vestígios de pequenas rachas. Cuidado para não cozerem demais este bolo!...O interior deve ficar mole e húmido!...
Retiram imediatamente do forno, e deixam arrefecer completamente antes de cortar, o que deve ser feito com uma faca passada em água quente, em rectângulos com cerca de dois dedos de largura e quatro de comprimento.

Servidos com morangos e natas frescas, batidas com açucar e baunilha, digno de um banquete de São Valentim!...


Para o meu estimado Irmão, o Digníssimo Conde de Burriés de Baixo, devo avisá-lo que esta receita supera a da Estimada Maddha Pudhi, das Terras Frias, se bem se lembra, que devorámos lá uma travessa inteira destes rectângulos deliciosos a que os locais chamavam de 'Brownies', um apelido de duendes escoceses das florestas!...Estes não são tão doces, e são mais fofos!...

Bom Apetite, e beijinhos destas nossas cozinhas!

CBC

Monday, February 06, 2006

O meu Primo Ernesto.

Existem sempre pessoas nas nossas vidas que nos marcam. O meu Primo Ernesto foi uma dessas pessoas que me marcou de uma forma tão valiosa e profunda que eu não sei se conseguirei prestar-lhe aqui uma homenagem póstuma, digna do seu valor, mas vou tentar...
O Primo Ernesto era, na realidade, primo direito do meu Avô Américo. Cresceram juntos, e pode-se dizer que eram como irmãos. Sempre brincalhões, um com o outro, particularmente na altura dos aniversários...tinham 6 meses de diferença um do outro, e faziam sempre questão de o mencionar, quando a vantagem era propícia, claro!...'Então parabéns!...estás um rico velho!', dizia o primeiro, assim que o outro ficava mais velho. 'Parabéns ao novo!...Olha que agora não estás melhor!', dizia então o segundo, assim que o primeiro o apanhava na idade...E era assim uma brincadeira constante que durou 88 anos.
Ir à casa do Primo Ernesto e da Prima Hortense, a sua esposa, quando eu era míudo, aos fins-de-semana, era um acontecimento que me deixava confortavelmente ansioso, de uma visita para a outra. E, se por algum acaso, faltávamos à visita, era como uma nuvem negra que me entupia a vista e as ideias...ficava cá com uma raiva!...
O meu primo Zé, na altura tratado por Zézinho, e apenas uns dois anos mais velho que eu, foi criado por eles, e é claro que era sempre um companheiro com quem eu podia brincar e fazer travessuras. Reconheço que era sempre divertido ir lá a casa e brincar com ele, mas a verdadeira razão que me alegrava a visita era mesmo o Primo Ernesto!...
Os serões eram sempre acompanhados de uma mesa cheia e divertida, de comida e de gentes! As conversas diluíam-se umas com as outras, a casa era enorme e espaçosa, havia sempre miudagem com quem brincar e havia sempre caixas de jogos divertidíssimos. O tempo passava a correr naquele ambiente, e a hora de voltar a casa era sempre encarada com tristeza e resignação. Durante todos os anos que visitámos a casa do Primo Ernesto, não me recordo de o ouvir alguma vez repetir a mesma história...e ele era um contador de histórias!...Se bem que a percepção, na altura, fosse bastante limitada, lembro-me vagamente de excertos de histórias fantásticas que ele contava sempre!...
Um dedicado apícultor, o Primo Ernesto produzia um excelente mel, ou como ele dizia, 'As abelhas produzem o mel, e nós limitamo-nos a roubá-lo delas!...'. Extraído de colmeias que tinha em várias regiões, particularmente em Monsanto e dos arredores do Bombarral, se a memória não me trair, havia sempre 'Mel do Primo Ernesto' em nossa casa, e com o mel havia sempre uma história também!...
E depois havia os bichos-da-seda!...o Primo Ernesto criava bichos-da-seda por causa dos casulos, dizia ele, que eram utilizados pelas fábricas de seda. Foi ele que me introduziu à criação destas lagartas, e me ensinou tudo o que sabia acerca do processo de desenvolvimento destes bichos, do ovo à borboleta!...E era isso que me fascinava nele...o contágio do conhecimento era irreversível!...O Primo Ernesto tinha um quintal onde crescia uma amoreira gigante, que eu e o Zézinho trepávamos tão rápida e ágilmente como era possível a dois míudos. As folhas da amoreira são o alimento dos bichos-da-seda, por isso, a fonte de alimentação não era problema nenhum de recurso para nós. Durante o periodo dos bichos-da-seda, passávamos os dias encavalitados na árvore, a apanhar folhas para saciar o voraz apetite desses curiosos bichos, que cresciam rápidamente, gordos e satisfeitos, passando o dia a comer. Depois começava a metamorfose, eles construíam o casulo que era parecido com um ovinho de seda, sólido e de tom amarelado, feito de quilómetros de um fio de seda enrolado durante dias.
Depois de um periodo que parecia interminável, saíam os bichinhos, agora transformados em borboletas brancas, cobertas de um pelo macio como a seda, e umas sobrancelhas pretas muito engraçadas. Não duravam muito tempo, e não voavam, mas cupulavam durante o seu curto periodo de vida, e punham cerca de 300 ovos cada uma, que mudavam lentamente de cor, amarelo pálido, quando eram postos, até se tornarem castanhos, e por fim cinzentos, até ao ano seguinte, quando chocavam e apareciam uns bichinhos pretos, do tamanho de formigas. Geralmente, quando os ovinhos chocavam, ainda não havia folhas na árvore, mas a inesgotável sabedoria do Primo Ernesto ensinou-nos que se podia alimentá-los com folhas de alface, até a amoreira ter folhas!...Que alívio!...
O Primo Ernesto tinha sempre umas boas dezenas de caixas de bichos-da-seda, todos os anos, fazendo uma criação anual de milhares de casulos. O meu avô nunca me deixou expandir muito com o contágio das multidões, mas penso que num ano, em particular, consegui ter cerca de 300, umas cinco ou seis caixas deles!...Aquilo é que era comer folhas de amoreira!...Não pensem que não dá trabalho ter bichos-da-seda!...O Primo Ernesto era diligente na manutenção destes animaizinhos, e ensinou-nos sempre a tratar deles com cuidado e dedicação...além de comerem muito, também estavam sempre a fazer caganitas pretas, e o nosso trabalho diário era retirar os restos das folhas devoradas, que consistiam em autênticos trabalhos de filigrana, separar os bichinhos todos, limpar as caganitas, colocar folhas novas nas caixas de cartão, e tornar a colocar os bichos esfomeados nas folhas novas, que tinham de ser substituídas cerca de 3 ou quatro vezes por dia!...Agora imaginem fazer isto com 300 bichos...Arre!...Quando os ovos eram finalmente postos, cortávamos as caixas aos bocados, e guardávamos assim os ovinhos até ao ano seguinte onde, por fins de Fevereiro, aguardávamos de novo o aparecimento da bicharada. E isto tudo por causa do Primo Ernesto!...todos os míudos que eu conhecia tinham bichos-da-seda, mas os nossos eram descendentes dos do Primo Ernesto, e guardávamos os ovos de um ano para o outro!...Os outros míudos compravam os bichinhos, já com um centímetro ou dois de comprimento, nas tabacarias das esquinas que os vendiam à dúzia, e aos saquinhos de folhas também!...Mas nós não, nós tinhamos a amoreira do Primo Ernesto, e criávamos os simpáticos bichinhos desde o ovinho, sim, aquilo era tradição e orgulho!...
Recordo-me também do Primo Ernesto nos contar histórias pormenorizadas das abelhas, e da forma como as colmeias eram organizadas em sociedades matriarcais onde a Rainha reinava, e a forma como as abelhas comunicavam umas com as outras!... porque o Primo Ernesto não se limitava a ter abelhas e bichos-da-seda...ele estudava apaixonadamente esta bicharada toda e compreendia os seus ciclos, estruturas sociais, hábitos e morfologia. Hoje, arrisco-me a pensar que o Primo Ernesto fazia estas coisas para nos poder ensinar a nós, os míudos, a respeitar a natureza e a tomar mais atenção ao mundo que nos rodeava na altura, sem computadores e televisão a cores.
A sabedoria do Primo Ernesto era inesgotável, e penso que foi isso que me atraíu tanto nele!...Sempre pronto a contar uma história, sempre pronto a desafiar o nosso conhecimento científico e a enriquecer-nos com mais conhecimento ainda. Não me recordo nunca de um momento com o Primo Ernesto que não fosse agradávelmente instrutivo e gratificante, e por isso lhe agradeço pela sua contribuição tão valorosa, que me ajudou a crescer e a tentar sempre ter o mesmo espírito inquisitivo que ele nos ensinou. Tive sempre a sorte de o visitar, até bastante recentemente, antes de ele ter sido internado por questões de saúde mental, quando me deslocava de férias à Lusa Terra, e numa dessas visitas, há cerca de dois ou três anos atrás, aconteceu um episódio interessante. A prima Hortense tinha falecido há pouco tempo, vítima de um súbito derrame cerebral, fulminante, e o primo Ernesto encontrava-se em casa, na companhia do Pilecas, um dos seus gatos. Como se tinha tornado tradição, durante a minha curta visita a Portugal, fui visitá-lo com o meu Avô, e sentámo-nos a ouvir mais uma das interessantes histórias que o Primo Ernesto sabia sempre contar tão bem, e que continuavam a cativar os meus ouvidos com o mesmo encanto de quando eu era míudo. Durante a minha visita, a conversa foi parar à história de um violino antigo, pertencente ao Tio Ramalho, esposo da Tia Alzira, estes últimos tendo sido os pais da falecida Prima Hortense. O Tio Ramalho tinha sido Tipógrafo do Jornal da República, no tempo da formação da República Portuguesa. Nesse tempo, também era o primeiro violinista da Tuna Académica de Lisboa, e chegamos assim à história do violino do Tio Ramalho. Ora, o violino do Tio Ramalho tinha estado a descansar, há já imensos anos, na sua caixa original de madeira, preta, no topo de um móvel pesado, acumulando a poeira dos tempos e remexido ocasionalmente apenas por alguma lembrança memorial. Não se sabe há quanto tempo já lá estava, nem existem recordações da caixa ter sido aberta, porém, desta vez, por alguma curiosidade mais forte, foi decidido que a caixa devia ser transladada para um local mais acessível, e mesmo aberta, para verificar e confirmar a existência de tal instrumento que tem sido a razão de tantas conversas na família, muitas vezes simples lembranças sentimentais da vida passada do Tio Ramalho.


Existia uma chave pequena, presa à pega da caixa do violino, mas estava partida, sabe-se lá há quantos anos, e o fecho era forte e bem seguro. Fechaduras destas não se fazem já há muitos anos, eram feitas para durar e resistir, como provava esta agora!... A solução seria utilizar uma pequena serra de ferro e violar o tempo e os anos desta caixa tão cuidadosamente selada.

Serrar o fecho não foi tarefa fácil, pela limitação do angulo de acesso, e tendo em conta o cuidado necessário para não estragar mais nada. Quando o fecho cedeu, abriu-se a caixa, cuidadosamente, para não cair nada sem aviso, e também porque havia uma certa apreensão em expôr aos nossos olhares cobicosos, repentinamente, um objecto que há tantos anos se encontrava fechado. Depois de aberta a caixa, o espectáculo que se apresentou diante dos nossos olhos foi um momento acompanhado por um silêncio mágico de deslumbramento e respeito. Ali se encontrava o violino, com o tampo harmónico, em pinho, coberto por um verniz brilhante de um laranja vivo e cuidado, com todos os seus recortes bem delineados e balançados, como o desenho feito pelos braços de uma bailarina que dança ao som deste mesmo violino, numa cúmplicidade de música e movimento que se conheceram desde sempre. As cordas já não existiam, decerto comidas pelo tempo e pelo uso, mas isso não lhe retirava nenhuma graciosidade. Todo o resto se encontrava intacto e bem conservado. A voluta, bem torneada, com uma graciosidade imperdível, as cravelhas em madeira, fora de serviço mas todas presentes, a pestana e o cavalete, este numa madeira mais clara, minuciosamente trabalhado e recortado. O estandarte, preso ainda ao botão pela corda original, e o descanso para o queixo quase que convidavam a uma melodía harmoniosa ainda por tocar. O fundo e as costilhas, feitos de plátano encontravam-se igualmente em excelente estado de conservação. Senti que estava perante uma pequena obra de arte, um retalho de um passado distante, ao mesmo tempo familiar, e senti uma alegria enorme por ter tido a sorte e a honra de ter partilhado este instante tão mágico de descoberta. Costuma-se dizer que a curiosidade matou o gato, e a curiosidade não estava ainda satisfeita, faltava ainda tentar descobrir algum vestígio, ou sinal da origem de fabrico, um nome, uma direcção, ou mesmo uma data, algo que nos dirigísse a um local, ou a um espaço temporal onde pudéssemos colocar este violino, no espaço e no tempo, num ou noutro, ou em ambos. Curiosamente, como o gato, espreitei pelos effes, os orifíçios graciosamente recortados no tampo harmónico do violino, em busca de um sinal de identificação, e ali estavam, cuidadosamente gravados a fogo, no fundo do violino, visíveis apenas pela curiosa espreitadela furtíva. Aí, lia-se, Antonius Stradivarius Cremonensis, Fabriobat Anno 1718!

Ainda noutra ocasião, e numa das últimas vezes que o visitei, levei-lhe um frasco de mel, desta vez proveniente de umas colmeias que eu tinha em Bethany, no Canadá, e senti nos olhos dele uma felicidade e um carinho imenso por saber que, de alguma forma, me tinha tocado na alma. Foi talvez uma forma de eu lhe agradecer, igualmente, pela sensibilidade e pelo conhecimento que ele tão generosamente me transmitiu.
Hoje de manhã, recebi a notícia que ele tinha falecido. Obrigado, Primo Ernesto, por ter feito uma diferença tão grande no enriquecimento do meu desenvolvimento!...O meu desejo é poder vir a fazer o mesmo com os míudos de agora, e deixar neles uma recordação tão positiva como o Primo Ernesto me deixou a mim.
De sua real e mui nobre descendência, ficou o seu estimado filho, D. João Cadaval Rocha, Barão e Senhor Mestre das Artes das Marinhas, que é igualmente gracioso e altivo nos seus serões de contar histórias, e que manterá, da mesma maneira, a magnífica tradição do Senhor Seu Pai, em refrescar as ideias à juventude com as suas maneiras de relatar, e que me cativou igualmente durane os meus anos mais tenros. Os meus sentimentos, querido e estimado Primo Joãozinho, o meu coração está com o teu. Por muito difícil que esta jornada possa ser, é importante que saibas que tanto o Primo Ernesto como tu contribuíram imenso para a felicidade de muitas pessoas!...Se não fosses tu, Joãozinho, eu hoje não teria a paixão que tenho por aquários com peixes tropicais, nem talvez o espírito de aventura de viajar por terras estranhas e distantes, como tu tão bem nos relatavas das tuas viagens marítimas de longo curso. Coragem!... a sabedoria, a vivacidade, o espírito da descoberta, e a paixão do meu Primo Ernesto, Senhor Teu Pai, assim como a Tua, não caíram nem caírão nunca em mãos, ou pensamentos alheios, e os bons momentos serão sempre recordados com um sorriso!...
Beijinhos e abraços a todos,
Nuno Osvaldo a.k.a. CBC

Saturday, February 04, 2006

Theobroma cacao L., a cura para os sentimentos de solidão...



Temos saudades vossas!!!... O abandono que sentimos nestas nossas cozinhas reais torna-se insuportável...Há uma semana que andamos a comer sandes de chouriço e leitão assado, que foram os restos que sobraram do último banquete, e ninguém voltou para ajudar a comê-los.
Uma vez que este abandono súbito, e este silêncio repentino nos está a causar uma depressão enorme, decidimos fazer alguma coisa por isso!...Das duas uma, ou começamos a beber desenfreadamente, o que pode ter as suas consequências mais ou menos graves, acabando invariavelmente numa valente ressaca.
Porém, podemos adoptar ou um outro método, mais familiar e benéfico, que é encher o papo de chocolate!...Todos nós conhecemos os efeitos mágicos do chocolate, a antecipação da primeira dentada, o sabor a invadir as papilas, o cheiro a derreter-nos o espírito, as pupílas a dilatarem, o coração a bater mais apressado, e até uma leve alteração da coloração facial como se fosse o culminar de um orgasmo gustativo...
O chocolate, proveniente do cacau, é um produto originário do Novo Mundo, desconhecido na Europa até ao Séc. XVI. Até à segunda metade do Séc. XVIII, o chocolate não era um alimento, mas uma bebida. No entanto, no México e na América Central, era já bastante apreciado desde, pelo menos, há 500 anos antes da nossa era. Nas culturas Maias e Aztecas, as semente de cacau eram secas, torradas, moídas, e finalmente misturadas com água, farinha de milho, malaguetas e baunilha, para fazer uma poção espessa e picante, servida fria e sem açucar, chamada 'chocolat', que significa água amarga.
Os Aztecas acreditavam que o chocolate dava força, sabedoria, e potência sexual. Acreditavam igualmente que o cacaueiro tinha sido roubado do paraíso pelo deus Quetzalcoatl, que o trouxe para a Terra e ensinou as pessoas a preparar o seu fruto.
Trazido para Espanha pelos conquistadores invasores, o consumo de chocolate era reservado para os reis, o clero, e a classe guerreira de élite, assim como também para as vítimas de sacrifícios rituais humanos, que o bebiam como a sua ultima refeição. As tribos conquistadas tinham de pagar os seus tributos em sementes de cacau, que eram utilizadas como valor monetário nas sociedades Aztecas.
Quando os conquistadores invasores chegaram à América, não ficaram nada impressionados com a bebida, que classificaram como sendo 'repugnante...com uma camada espessa de escuma, com um sabor bastante desagradável.' acrescentando ainda um missionário espanhol, 'parece ser uma bebida mais indicada para porcos do que para pessoas.' Aparentemente, o conquistador Hernando Cortez também não gostou da bebida, mas a ideia de crescer dinheiro pareceu-lhe bastante prometedora, e decidiu iniciar a sua própria plantação de cacaueiros!... Em 1528, retornou para Espanha com um carregamento das sementes exóticas, onde os cozinheiros locais começaram a modificar a receita, e, quando retiraram as malaguetas e adiçionaram açucar e especiarias (canela, cravinho e erva-doce), toda a gente gostou, e gostaram muito!...
Ao princípio, o preço era exurbitante, e o chocolate era então uma bebida exclusívamente acessível à nobreza, e era também um produto 100% Espanhol, durante quase 100 anos!...Os nossos vizinhos do lado, conseguiram manter a descoberta do chocolate um segredo, com as suas plantações da cacaueiros no Novo Mundo, e trazendo as sementes de volta, fora das vistas curiosas, para serem processadas nos secretos interiores dos seus mosteiros. No entanto, no início de Séc XVII o segredo escapou-se, o monopólio espanhol foi destruído, e o chocolate iniciou a sua rota pela Europa. Em 1657, abriu a primeira casa de chocolate em Londres, servindo então chocolate importado de Espanha à elíte que tinha recursos monetários para o poder beber!
No entanto, esta bebida de chocolate não era de forma alguma idêntica ao que nós hoje chamamos de chocolate quente!...Primeiro, era feita com água, não com leite, mas, mais importante ainda, era feita com sementes de cacau inteiras, não com cacau em pó. E qual é a diferença?...A manteiga de cacau, nobres leitores e leitoras, pois!... A semente de cacau contém mais de 50% do seu peso em manteiga de cacau, uma gordura vegetal amarelo-pálido, o que tornava a bebida gordurosa e espessa. Ao preparar o chocolate, era necessário bater a bebida com uma espumadeira especial, conhecida por 'molinillo', de forma a dispersar a gordura pelo líquido.
Em 1828, uma invenção Holandesa alterou tudo. Conrad van Houten, em busca de uma maneira de tornar a bebida menos espessa, desenvolveu uma prensa que retirava a maior parte da gordura das sementes, durante esse processo. Nesse momento, o chocolate foi dividido em dois produtos: O chocolate sem manteiga de cacau, tornado assim em pó de cacau, que é a forma que nós conhecemos para fazer chocolate quente, hoje em dia, e a manteiga de cacau!...
Quando uma certa quantidade dessa manteiga de cacau era misturada de novo com o pó de cacau, acontecia porém algo diferente e igualmente maravilhoso!...Essa mistura passava de uma substância grosseira para um estado sólido à temperatura ambiente, e desfazía-se numa pasta bastante saborosa, dentro da boca!... Este novo produto ligava-se bem com outros ingredientes, tal como o açucar, e mais tarde produtos lácteos, de uma forma que as sementes de cacau originais não permitiam!...Assim, o grande sucesso foi alcançado em 1847, quando J.S. Fry & Sons of Bristol, introduziram o chocolate comestível. Finalmente, o chocolate tinha sido transformado de uma forma líquida para um produto sólido. Joseph Fry tinha acabado de criar a barra de chocolate.
O resto é história!... Em 1875 o chocolate de leite foi introduzido na Suíça. Em 1875, os parvos dos americanos (repararam que eu também escrevi americanos com letra pequena?...pois!), particularmente o senhor Milton Hershey, que vendeu os primeiros chocolates de baixa qualidade, criados em massa, com o nome de Hershey Bar, na Pensilvannia.
Durante as famosas e vergonhosas Guerras Mundiais, as tropas americanas transportavam barras de chocolate nas suas rações de combate, o que criou uma necessidade de produção sem precedentes, e não só no Ocidente!...Os soldadinhos americos também introduziram o chocolate aos Japoneses, durante a 2ª Grande Guerra Mundial, e o consumo, por esse famoso Império do Sol Nascente, subiu de zero para 16.8 kilos de chocolate, por pessoa, anualmente!!!...Gulosos, os rapazes!...
Mas a conquista não foi total!...Os Chineses consomem apenas uma barra de chocolate por cada 1,000 consumidas pelos Ingleses.
Agora, não quero desencorajá-los, mas fazer chocolate não é uma tarefa fácil. A semente é uma massa complexa com mais de 300 substâncias químicas que têm de ser cuidadosamente tratadas de forma a trazer à superfície todos os sabores característicos e únicos de cada tipo de semente de cacau. Primeiro, é necessário recolher, á mão, os frutos que crescem ao longo do tronco da àrvore do cacauzeiro, e que são mais ou menos do tamanho de um ananás pequeno. Depois, têm de ser abertos ao meio. A polpa branca contida dentro de cada fruto contém cerca de 20 a 50 sementes de cacau, o que é suficiente para fazer entre 30 e 50 gramas de chocolate. A polpa e as sementes são expostas ao sol, onde fermentam durante vários dias. Este processo aumenta a temperatura da semente até cerca de 50 graus centígrados, eliminando os germes da semente e activando os enzímas necessários e cruciais para obter o sabor final.
As sementes de cacau, depois de fermentadas, são secas e enviadas para as fábricas de chocolate, onde cada colheita das diferentes regiões e espécies de cacauzeiros de onde são provenientes, são por sua vez misturadas de acordo com a receita secreta de cada produtor. As sementes são então torradas, as quais, durante esse processo adquirem e desenvolvem o sabor e características próprias e naturais do chocolate, e por fim são descacadas. As sementes torradas são então moídas até se obter um rico líquido castanho, que se chama licor de café, sem alcoól, claro. Para se fazer o pó de cacau, o licor é pressionado para se remover a manteiga de cacau. Para de fazer as barras de chocolate, são adiçionados açucar, manteiga de cacau extra, e sólidos lácteos, no caso da fabricação do chocolate de leite. Esta pasta é então amassada entre rolos quentes, durante horas, e por vezes dias, para assegurar a mistura homogénea e a refinação necessária para finalmente ser vertida em moldes, lentamente arrefecidos, e depois embalados para distribuição e consumo!...Pronto, agora já sabem a história do chocolate!
Como manda a tradição nestas nossas nobres cozinhas, onde o chocolate é um importante e delicado ingrediente da nossa doçaria, e não só, vamos agora partilhar uma receita absolutamente deliciosa e decadente, á base de chocolate, em troca da tão apreciada Nega Maluca que a estimada Baronesa de Alecrim, tão delicada e graciosamente já partilhou connosco!
Esta receitinha de chocolate que vos quero dar é conhecida como Trufa de Leite Créme.
Para esta receita, têm de fazer uma zabaglione com 4 gemas de ovos e 1/4 de chávena de açucar, e que consite em bater estes ingredientes num tacho em banho-maria, delicadamente, até a mistura se apresentar com um tom pálido e cremoso. Este processo é muito delicado, não deve ser feito em lume muito alto, e demora poucos minutos a atingir a consistência desejada, pois não queremos cozer as gemas, mas antes derreter o açucar. Depois disso, adiçiona-se 2 chávenas de natas frescas, meia chávena de pó de cacau e 200 gramas de chocolate negro de boa qualidade, lembrem-se que a receita vai reflectir os ingredientes!... Mexem esta mistura constantemente, sem deixar ferver, e no fim, acrescentam 1 colher e meia de manteiga, misturando bem. Deixam arrefecer em taças individuais e, antes de servir, cobrem a superfície do leite creme com açucar, e queimam com um ferro quente, ou um maçarico de cozinha, antes de servirem.
Beijinhos e bom apetite!
CBC

Wednesday, February 01, 2006


Isto é uma publicação de emergência!!!

A pedido de colegas nossos de outros Blogs:

Por favor não deixem de visitar imediatamente o

www.plagiadissimo.blogspot.com


e façam o favor de ler o Blog intitulado:

A Vergonha da Humanidade.

Agradeçemos que participem todos na campanha, de forma activa, pois a união faz a força, e as fadas não o vão fazer, por isso o melhor é sermos nós a tomar a iniciativa e fazer tudo o que podemos para parar este tipo de violência!

Obrigado pelo apoio!

Em breve retomaremos o curso anormal (porque nós NÃO somos normais!...) destas nossas Nobres Cozinhas, tão cheias de disparates, como já é costume!...

Obrigado!